quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Intitulável.

Sentou-se entre as árvores, e sentiu o rosto gelado pelo vento.
Era inverno, a estação preferida. 
O pensamento quase congelava, os dedos já o haviam feito.
Pensou em acender um cigarro, mas lembrou que não fumava. Pensou em beber um pouco, mas lembrou que sem companhia, beber não faz muito sentido.
Lembrou de várias respostas para várias discussões, e lembrou que não teria coragem de dá-las, mesmo que pudesse voltar no tempo. 
Olhava como a grama se comporta quando fica realmente frio, e pensava em como seria bom se de fato nevasse.
Teve a ideia de tomar um café bem quente, mas desistiu de sair dali, daquele aconchego estranho de árvores e patos. 
Quis uma fogueira, mas entendeu que no meio de um parque isso seria ilegal. 
Procurou um livro na mochila, e não achou nada além de papéis e caneta. Pensou em escrever, mas lembrou que não escrevia bem, e que não tinha dom pra desenhar também, e que diabos, estava frio, e seus dedos doíam e não valia mais a pena segurar aquela merda de angústia porque afinal a única coisa que lhe restava era sentir. E sentiu. Chorou até não ter mais lágrimas, gritou até ficar sem  voz. Não havia quem ouvisse, de qualquer forma. 
Teve raiva, ainda mais raiva, fez a tal fogueira, pensou na ilegalidade e invés de apagá-la, saiu correndo. 
Antes de entrar em casa, fumou o cigarro, bebeu o vinho. Pensou maldições, sofreu. 
Não cumprimentou ninguém, subiu até o quarto,  pensou em amarrar uma corda na lâmpada, lembrou que isso não aguentaria seu peso, não pensou duas vezes, pulou da janela. No caminho até o chão, sentindo a força do vento e a adrenalina, se arrependeu do que fez mas percebeu que já era tarde, e enquanto ainda era tempo, acalmou o coração, se entregou. Viveu e perdoou mais naqueles segundos, do que durante a vida toda. 




Um comentário:

  1. Interessante. Muito interessante. "Nada é maior que a vontade de viver. Nada."

    Li uma história baseada nesse argumento recentemente, minha história preferida, diga-se de passagem. E bem, nada nos mostra mais a importância da vida do que a própria morte. Mas, como nem todas as histórias tem um final feliz, nessa, o protagonista descobriu a vida apenas nos seus últimos segundos.

    A metáfora é verdadeira, sincera. E traz uma reflexão bem vinda sobre como vivemos, quem somos, e porque fazemos e tomamos certas decisões.

    Parabéns pelo texto, Canhotta. Longe de ser o meu preferido (nada bate a sua poesia canhotta), mas me ganhou no pelo contexto.

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