quinta-feira, 14 de julho de 2016

O Enforcado.

Ah, poesia que só vem quando a vontade de morrer vem junto.

Megera.

Costumava andar comigo toda prosa, toda rima, toda inteira.

Agora nem me vê, só vem pra me rir.
Pra zombar da minha falta de jeito, da falta de rumo, de prumo, de viço, de sexo, de orientação, de compasso.

Ah, poesia... Você já foi mais minha amiga.
Já me acalentou mais, me amou mais, me viveu mais.
Poesia a senhora já me foi mais flor, mais amor, mais verso de laranjeira.

Hoje só vem quando sabe que não tô inteira.

Achei que já tivéssemos feito as pazes, mas qual paz é a paz do poeta?

Nem paz nem paciência.

A Dona Poesia só me traz vísceras e órgãos.

Ela me troca em miúdos.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Como nascem as pessoas geniais?

- Você já percebeu que confunde tudo?

- É, já percebi sim.

- Então por que não presta mais atenção?

- Eu presto atenção. Mesmo.  Mas continuo confusa. Acho que é porque eu presto atenção, aí as coisas ficam maiores. Bem maiores. Entende o que eu quero dizer?

- Não. Não faz sentido.

- Faz sim. É como se quando eu visse uma banana eu prestasse tanta atenção nela que ela virasse um cacho de bananas. Aí ela fica grande demais, ela fica maior, ela vira um cacho, uma bananeira, uma floresta.

- Então preste atenção só na banana.

- Você já percebeu que não entende nada?

- Quê?

- Você já percebeu que não entende nada?

- Mas... Isso não faz sentido nenhum. Você que não consegue se concentrar em uma coisa só e eu que não entendo nada?

- É, você realmente não entende nada. Quando eu confundo as coisas não é porque eu não estava prestando atenção nelas, é porque eu prestei atenção demais e elas se multiplicaram, cresceram, ganharam vida própria. Se eu não tivesse prestado tanta atenção talvez a banana fosse mesmo só uma banana e isso fosse mais fácil de explicar.

- Para de confundir tudo!

- Acho que é isso. Eu não estou confundindo tudo. Muito pelo contrário! Estou explicando tudo, vocês não entendem minhas explicações e eu fico como confusa. Talvez o seu olhar seja raso demais.

- Então você é genial e nós somos burros?

- Não. Ninguém é burro. Essa expressão é só pra minar a confiança de quem chega a respostas diferentes. Genial é quem foi chamado de burro a vida toda, até conseguir provar que sua resposta diferente estava certa.

- Tá, então você é genial, mesmo que nós não sejamos burros?

- Não. Eu não consegui provar nada até agora. Talvez eu nunca consiga, inclusive. Então eu sou só na média mesmo.

- Se você é na média, isso prova que você confunde tudo. Então pare de confundir tudo.


- Agora que eu entendi que eu passo mais tempo explicando que confundindo já posso dizer que eu não confundo nada. Talvez eu tenha a profundidade de um oceano, ou da fome de um gigante, daí tenho mais coisas pra pensar, ver, sentir e misturar. Mas confundir não. Agora que eu entendi, já não confundo mais nada.