segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Lixo que não é lixo não vai pro lixo.

Quando estávamos em Curitiba, o loiro vivia procurando móveis para comprar assim que chegássemos em Irvine, mas eu estava vivendo tão intensamente cada momento da mudança que me permiti só me preocupar quando chegássemos aqui.

No dia em que chegamos, gastamos um bom dinheiro na Ikea, como eu já contei e daí quando chegamos em casa, nos ensinaram a... Olhar os lixos.

Isso mesmo, os lixos.

Fomos no walmart gastar 100,00 dólares com coisas para a casa, tipo jogo da panelas (que já perderam o ‘antiaderente’), talheres, toalhas e afins, e na volta passamos por um apartamento onde um sofá de couro vermelho estava na calçada. Tinha um chinês entrando no apartamento, perguntamos se era dele e ele disse q sim, então estávamos indo embora quando percebi 4 cadeiras altas, dessas de usar nos passa-prato (bancada, bancada americana) em boa condição, perto do lixo. Foi uma festa! Pegamos 3 delas que estão com a gente e vão permanecer por um looooongo tempo.

A partir daí virou bagunça: luminária veio do lixo, jogo de pratos (novos, com embalagem!), maquiagem (3 estojos novinhos, sem nenhuma marca de uso!), mesa de centro, quadro de recados, panela, cadeira para escrivaninha, (3)lixeiras, cesto de roupa suja, banqueta de penteadeira (daquelas mais baixas e largas), copos, canecas, armário pra livros, objetos de decoração... Não sei mais quantas coisas, mas deve ter mais...

Hoje eu fui levar o lixo e dei aquela olhadinha básica na lavanderia (tem um espaço nas lavanderias do housing para doações), encontrei 3 lençóis em excelentes condições e super cheirosos tbm, lógico q trouxe para casa! Sim, vou lavar novamente antes de usar, mas poxa, a gente só comprou um jogo de lençol aqui porque foi o que o dinheiro deu, agora conseguimos mais 3 lençóis! Muito amor!

Quanto aos nossos sofás, pagamos super caro em um (30,00 dólares) e um preço ok no outro (10,00 dólares). MAS RÔ A SENHORA ESTÁ LOUCA TRINTA CONTO É MEGA BARATO. Aí eu te digo: sofá tem pelo menos uma vez na semana em algum dos lixos do housing... A maioria são bons sofás, mas tem uma galera que deixa os sofás sem as almofadas e eu fico realmente confusa do motivo que levaria alguém a ficar apenas com as almofadas em casa.

Uma vizinha levou a gente no bazar da Marines Church, e o preço básico de lá é 2 dólares. Foi lá que compramos o sofá por 10,00, e lá eu fiquei louca com a quantidade de louça bonita que tem. Até agora só comprei 2 taças (1 dólar cada), mas a vontade é me acabar nas travessas e louças de época... Além de louças e móveis, nesse bazar tem eletros, roupas (todas as idades e tamanhos e estilos), calçados e livros. É super bacana e uma excelente saída pra quem, assim como eu, está na Califórnia e – ainda – não é rica. Inclusive, lá também tem muita coisa pra doação, muita mesmo! Uma amiga pegou grátis uma sapateira e vários quadros!

Pensei em colocar fotos dos móveis, mas decidi colocar só a minha foto saindo do lixo da Marines, quando peguei as caixas de rolo de filme mais legais do mundo, que estão servindo de porta-lápis e de porta-trecos aqui em casa.


P.s.: Deu pra entender porquê existem tantos acumuladores nos EUA? Comprar é muito acessível, achar coisas novas no lixo é muito fácil e se você for uma pessoa apegada demais, simplesmente vai socando a casa, aí quando percebe está no meio de um vazio existencial e de uma grande bagunça. 

 
(não resisti, as cadeiras são lindas demais)

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Um lugar Chamado Irvine

Não escrever sobre isso tem me feito pensar mais nisso, então, vamos lá.

Lembra quando eu falei que parecer estar num filme me dava ataques de pânico? Pois então. A roupa das pessoas, o cabelo, a fala, é tudo muito estranho. É muito estranho estar falando português com o Dan aqui em casa, abrir a porta e ter um mundo falando em inglês. A cabeça buga. A sensação é de que estando em outro país todas as pessoas vão falar a língua local, mas você é uma pessoa e não fala o tempo todo a língua local e existem gírias e maneirismos e isso é bem estranho. As novelas da globo que se passam na Índia com todo mundo falando em português deveriam ser banidas. Não faz sentido criar a ilusão de chegando em um lugar você automaticamente vai falar como um nativo. “Nossa Rô, mas vc é retardada da cabeça, né miga? É uma novela!” Sim, sou retardada da cabeça e sim é uma novela. Mas quantas vezes você já chegou na loja e disse “eu quero a blusinha da Babalu” ou no cabeleireiro e “corta pra mim que nem o da Odete Roitman”? Então, a gente cria um inconsciente de que será mais fácil se ambientar em lugares diferentes, quando na verdade não é. A não ser que você tenha saído de uma família cigana e mudado de cidade 4 vezes ao ano.

Para ter ideia de como a ambientação é uma coisa difícil, meu hálito mudou. Não sei ainda o que eu ando comendo por aqui, mas agora tenho mau hálito. Já descobri que donnuts me deixam com a gastrite atacada, é comer e passar o dia seguinte todo com muita dor de estômago. Já descobri que o leite não me faz bem também, mas ainda não sei  o que me deixa com o hálito ruim.

Falei sobre ambientação e hálito e esqueci o filme.

Eu odeio ETs, odeio mesmo. Tenho um medo tão grande, mas tão grande que eu nem sei como explicar. Já era grande, aí eu assisti a um filme sobre os malditos Greys que roubavam um garoto e pronto, ficou pior. Aí comentei com uma amiga sobre o medo, e ela disse que “nossa é verdade os Greys roubam crianças mesmo, eles são tipo uns piratas intergalácticos” e o caralho a quatro. Eu fiquei uma semana sem dormir. Sério. Um pavor absurdo. Tive que tomar tarja preta.

Teve a vez em que o maravilhoso do meu padrinho de casamento (bjs Gabe!) nos convenceu a ver um filme desgraçado de assombração que era baseado em fatos reais. Outra semana rezando muito pra conseguir dormir...

Aí, mais uma vez, você para e pensa: onde a maioria dos filmes de assombração se passam? Onde existem mais casos de pessoas abduzidas? Isso mesmo! Nos EUA! Já viu gente sendo possuída na Borda do Campo? Não viu. Viu gente sendo levada por uma nave em São José? Não viu. Só aqui que acontece essas desgraças, gente. Só aqui. Eu tenho preferido dormir durante o dia que à noite, pq eu já ‘viajei’ que levavam o Dan, aí eu fico meio ué da cabeça. 

Por que a vida é assim, você pensa que o filme que vai passar na tua cabeça é Um Lugar Chamado Notting Hill, quando na verdade o que passa é O Exorcista.



p.s.: Não consigo entender porque de repente o que eu escrevo ficou tão interessante.
Tem a ver sobre escrever de outro país? Tem a ver com ser sobre mim e pessoas gostarem de saber sobre a vida alheia? Eu gosto da vida alheia. Gosto de pessoas. Vai ver é por isso que o Championsip Vinyl está no ar há quase dez anos. O Rob Gordon fala só sobre o dia a dia (doentio) dele. Recomendo a leitura, o blog é muito bom.


domingo, 27 de setembro de 2015

Caillou estava certo, ou Como estar em Irvine me dá mini vontades de sumir.

Lembra quando você era criança e via o desenho do Caillou? Lembra-se da musiquinha? Pois é, “crescer não é tão fácil assim, cada dia na vida é uma nova surpresa!”. É assim que me sinto aqui. Crescendo, sem ser nada fácil.

Vocês que sabem inglês (ou qualquer outra segunda língua), por favor, ensinem seus filhos em mais de um idioma. Digo isso porque estou apanhando bem bonitinha pra aprender o inglês, que sempre foi a língua que eu mais odiei no universo. Inclusive, Universo, agora eu amo inglês acho lindo acho fácil adoro mesmo sério então por favorzinho com açúcar para de fazer essa língua ser tão difícil pra mim, obrigada.

Já passei por cada presepada que só eu mesmo... O atendente da lanchonete me perguntando qual ‘topping’ eu queria no café e eu respondi com “Rosemary”. Por um triz ele não colocou alecrim no meu café... Na verdade ele não colocou porque não tinha, pq se tivesse... Teve também o dia em que meu ID foi recusado na academia e eu não entendi nada do que a secretária disse, aí tiveram que chamar outro cara pra ajudar e o cara não entendia nada do que eu dizia... No fim voltei pra casa bem frustrada porque não consegui explicar que havia pagado a anualidade. Tudo bem, voltei lá depois e consegui – mesmo que com ajuda – me fazer entender. Mas na hora é mega frustrante.
Hoje, por exemplo, FINALMENTE consegui pedir um café com leite. Não fazia ideia de como falava isso, aí um colega ajudou: Caffé Latte é o café com leite, fica a dica pra quem ama o ‘pingado’ e não tem ideia de como se fala aqui. Aproveito pra lembrar que o café aqui é fraco, bem fraco. Nem o expresso é forte como os expressos do Brasil, aliás, o expresso é mais fraco que o café coado do (sul) do Brasil.

Essa semana fiz duas coisas que ainda não havia feito: Ir à academia e ir a um Pub.

Me senti parte de um filme quando entrei no pub (me sentir parte de um filme tem me feito ter pequenas crises de pânico), duas TVs, uma de frente pro balcão, ligada no jogo de beisebol e a outra na frente das mesas (mesas altas, com banquetas igualmente altas) ligada num jogo de futebol americano.

Ficamos na frente do balcão, então acompanhamos o jogo de beisebol e só posso dizer que é um jogo realmente genial. Muito mais emocionante que futebol, por mais que eu não faça ideia das regras... Ah, ao nosso lado no balcão estava uma mulher de uns 40 anos, com uma roupa toda bonita, tomando uma taça de vinho branco, enquanto um cara mais ou menos da mesma idade puxava papo com ela. O cara estava meio bêbado, foi engraçado. Ela não se incomodou com isso e logo estavam rindo juntos. Taça de vinho num balcão, ai que luxo. Achei o máximo (quem bebeu margaritas no balcão do taco me entende). Nós pedimos cervejas, o copo pequeno... O copo pequeno tem uns 700ml, e foi a cerveja mais alcoólica que já bebi. Forte, amarga, daquelas que a gente faz esforço pra tomar até o fim. Se bem que com meio copo eu estava literalmente bêbada. Aí o marido pediu bruschettas, imagina nossa surpresa quando a bruschetta chegou... No Brasil eu só vi esse aperitivo como uma fatia de pão francês com molho de tomate e pedaços de queijo por cima (ou outros condimentos e outros recheios, como queijo provolone e geleia – família fadanelli – por exemplo), aqui veio um prato com tomates cerejas cortados ao meio, um molho de azeite com sal e queijo ralado e uma ervinha verde que ainda não descobri o que é, com outro prato de torradas finas, feitas com pão francês. A gente achou super engraçado, não é um prato quente, como no Brasil, mas é um tipo de salada. Estava bom, o azeite de oliva aqui tende a ser mais puro que os vendidos em Curitiba, pelo que vimos. 

Aí bruschettas e mais um tanto de cerveja depois, eu ainda estava bem alegrinha. Fui pedir ‘tap water’ ou seja, água de torneira (aqui todos os estabelecimentos dão água de torneira de graça), aí a moça quase me serviu uma cerveja chamada Poter, pq eu devia estar bêbada o suficiente pra ela confundir water com poter. Ainda assim deixamos uma boa gorjeta com ela quando fomos embora, e isso é uma coisa importante de se dizer: deixe gorjetas. No Brasil eu deixava sempre que era bem atendida (além de pagar os 10%) e aqui o costume é deixar de 10 a 20% de gorjeta prx atendente, tendo em mente que 10% é pra um atendimento meia boca/ruim e 20, 25% é um excelente atendimento. Não deixar gorjeta é meio ofensivo e quer dizer que você realmente foi mal atendido, mal atendido tipo ‘nunca mais volto aqui’.

Ainda quero ir pra NY pra beber no Hooters. Imagina que louco? Acho que vou ficar me achando um monte, que nem quando fui comer na Cheesecake Factory (caro, mas excelente).

Aí no dia seguinte fomos pra academia (meu ID não passou de novo, mas dessa vez o cara simplesmente liberou pq “peloamordoamor todo dia essa mina aqui travada credo”), pela primeira vez pra malhar mesmo (das outras 3 vezes fomos pra conhecer, fazer inscrição e daí fazer aula experimental) e fiquei encantada com a opção de escolher em qual das “salas de aparelhos” eu gostaria de treinar naquele dia, já que existem duas salas (cada uma do tamanho de uma academia completa) completas, com aparelhos para todos os tipos de exercício, a diferença é que uma tem música alta e a outra tem televisões e não tem tanto barulho. Obviamente escolhi a segunda, mais calma e com menos gente. Vi aparelhos que só tinha visto na TV, como o TRX e um que não sei o nome, mas é um simulador de “subida de escada”, tal qual aparece no Biggest Loser. Acho que eu sou a próxima Biggest Loser. Quem sabe eu perco 20kg e viro a próxima Miss América de Fisiculturismo. Vai saber, né? Inclusive, aqui o peso é em pounds e eu tenho mesmo que perder 20 pounds, que em média é 10kg no Brasil. Se bem que eu tô meio que se dane o peso, eu quero mesmo é ficar forte, menos flácida, com nada de dor na coluna. Obvio que vocês sabem que se as costas doem é porque os músculos abdominais não estão firmes e não estão dando a sustentação necessária para as costas. No meu último mês em Curitiba meu corpo ficou uma quiçaça. Bunda ficou quadrada, coxa ficou mole. Acho que era a ansiedade me deixando torta. Isso e passar o dia no sofá, porque quando eu não estava correndo feito um cachorro fugindo, tentando resolver todos os pepinos que surgiam (e foram  m u i t o s ) eu estava no sofá morrendo (de cansaço, de angústia, de dor, de instabilidade emocional), enfim, com 25 dias aqui minha bunda já está durinha de novo, minhas coxas já estão mais firmes e sinto que quase tudo voltou ao lugar.

Falando em coxas... Como as roupas de academia aqui são feias! Com exceção de uns shorts bem curtinhos que deixam qualquer bunda perfeita, as roupas são muito toscas! Talvez porque o padrão de corpos aqui é menos curvilíneo e tudo fica um tanto largo, talvez porque o usual seja usar mais largo, enfim, saudades das roupas de academia que a Azaragata (bjs Fer!) vendia! Não que eu fosse uma compradora assídua, mas tinha uma leggins, blusinhas, shortssaia que eram muito lindos! Até agora a roupa mais bonita de academia são as leggins masculinas e os coletes masculinos pra malhar. As roupas masculinas dão de dez a zero nas femininas, essa é a real. Porém... Os homens malhados são, na maioria, estranhos. Imagina colocar o peitoral do Latrell no Neymar Jr, então, esse é o padrão dos ~~gatos sarados~~ daqui: perna finíssima e peito imenso. Não, o Jhonny Bravo não é um personagem imaginado, ele é baseado em como os caras que malham são. Deve ser por isso que a mulherada cai de pau nos latinos, porque mesmo que subconscientemente, o corpo simétrico dos ‘nossos’ homens é mais chamativo do que esse corpo de maçã-do-amor que os caras curtem cultivar aqui.

Sobre a academia ainda, eu chamo de academia porque tenho meio vergonha de chamar de clube, mas o Arc (vale a pena olhar o site) tem 4 quadras poliesportivas, 2 quadras de futsal (ou algo assim), piscina meio olímpica meio vou ficar de boas tomando sol, pista de corrida, parede de escalada, 4 salas de squash e acho que 4 salas para danças, sem contar a cozinha para cursos de culinária (cada atividade diferente, como as aulas de dança, capoeira ou culinária custam 40 dólares o trimestre). É um lugar enorme e tô bem cogitando a possibilidade de morar lá, escondida. Ah! Lembra que eu falei sobre as roupas de praia? Comprei um maiô que achei genial pra usar na piscina do Arc, me senti linda com ele, que tem o padrão de “estar coberta” que é usual aqui. Entretanto, como boa piriguete que sou, lógico que a primeira vez na piscina foi com o meu biquíni normal mesmo, com a calcinha que no Brasil seria normal, mas aqui é um escândalo de cavada.

E pra fechar, sabe o que eu descobri hoje de manhã quando um amigo nos levou tomar café da manhã? O apelido da esposa – paquistanesa – dele é “guria”, falado exatamente igual ao nosso “guria” aí do sul, e em Urdo isso significa Boneca. Fofo né? Sempre tivemos o inconsciente coletivo que nossas gurias eram bonitas, atrativas, maleáveis e representativas como bonecas. <3





















P.s.: Não achei melhores imagens. Me desculpem, mas algumas vezes é necessário ser visto pra se fazer entender.


                       

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

O cheiro de Irvine ou o porquê de eu achar que essa é a cidade mais encantadora que já vi.

Cerca de duas semanas em Irvine e fico pensando no que posso contar pros meus pais ou pros meus amigos sobre como é aqui. Imagino que todo mundo que já viajou passou por isso, ainda mais se a pessoa for como eu, que sente necessidade que o mundo participe da experiência.

As grandes coisas sobre a cidade são aquelas que qualquer um pode achar na wikipedia, como saber que a cidade tem apenas 40 anos e que surgiu em volta da UCI, que tem 50 anos. Outra coisa fácil de saber é que é perto das praias famosinhas, tipo Newport Beach ou Long Beach. Tem também que como a cidade foi construída em torno da vida universitária, 30% da população é de chineses (e imagino que 50% seja de latinos e indianos e o resto seja, talvez, de estadunidenses mesmo), o que parece pouco, mas é bastante perceptível quando em todos os lugares, dentro e fora da universidade, a maioria de pessoas que vejo são chineses de todas as idades  e perfis. Eu e o Dan apelidamos alguns de “chinegros”, que são os meninos chineses que usam roupas com estilo negro do subúrbio, usam mais gírias e também são mais malhados e bronzeados que a maioria dos chineses.

Mas as reais diferenças são vistas no dia a dia. É diariamente que percebo que não estou em Curitiba, quando, por exemplo, uso um banheiro público. 

Qual a diferença de um banheiro público aqui? Bom, em primeiro lugar as privadas têm assento, mas não tem tampa pro assento. Também não tem lixo pra jogar o papel higiênico, que tem que ser jogado no vaso sanitário mesmo. Só tem um lixo super pequeno pra colocar os absorventes. Na maioria dos banheiros que usei, e isso é banheiro pra caramba – quem andou comigo na rua sabe que paro pra fazer xixi a cada quarenta minutos, já que bebo água o tempo todo –  tem um “quadro” que vende absorventes externos e internos por 25 centavos: basta pôr a moeda e puxar a alavanca e seu absorvente cai. Super prático, já que quando desce a menstruação fora de época é um corre-corre desgraçado pra achar alguma farmácia aberta... 
Ah, aqui os banheiros são mais acessíveis também. Não só porque você não precisa entrar nos prédios públicos pra usar o banheiro, mas accessíveis pra pessoas que usam cadeira de rodas também. Nunca vi tantos banheiros adaptados assim no Brasil. Mesmo nos shoppings em Curitiba se me pedissem informação eu demoraria pra dizer em qual andar tem banheiro adaptado. Outra coisa legal do banheiro é que em boa parte deles a descarga é automática. Você levanta do assento e voilà! o papel vai embora. Imagine minha aflição sentada na privada pensando: “nossa, essa descarga é super forte, imagina a desgraça se ela falha e aciona enquanto tô sentada?”. É, sou bicho do Paraná, ainda não me acostumei com todas essas ‘modernidades’.

Passear à noite é bem gostoso, já que não tem sol, mas ainda tá quente porque fez 822 graus o dia todo. Impressionante é ver as pistas (enormes) vazias e nenhum pedestre atravessando a rua fora da faixa ou com o sinal aberto pros carros. Isso gera um pouco de impaciência em mim, mas prefiro me adaptar às regras da cidade (rola um boato que atravessar fora da faixa ou com o sinal aberto dá multa) do que quebrar uma regra pelos simples prazer de quebrá-la. Os motoristas também respeitam muito as faixas de pedestres e as ciclofaixas. Nas ruas e avenidas há um espaço considerável pra andar de bike e pelo menos até agora, em todos os lugares que vi que tinham calçadas, tinham ciclofaixas.

Não sei se todas as cidades da Califórnia são assim, até agora só conheço San Diego – que é um deleite pros olhos –, NewPort e Irvine, mas ainda assim acho válido contar como o trânsito nestes lugares é amável e funcional. Ah! Quando um carro dos bombeiros ou da polícia passa, não importa quão largas as ruas sejam, ou quão vazias estejam, todos os motoristas vão para o acostamento e só saem de lá depois que viatura saiu daquela quadra!! Achei tão fantástico isso! Morando na cidade com o trânsito menos colaborativo do Brasil e vendo motorista de ambulância com a sirene ligada tendo que buzinar pra conseguir passar, ver colaboração no trânsito é muito amor!

Outra curiosidade é que tem mais loja de comida do que loja de roupa. Lá em Newport a gente foi no Fashion Island, o shopping mais legal que eu já vi na vida. Bem aqueles de filme mesmo, com direito a loja de Rolex, Tesla e Louis Vuitton. Tinha uma loja da Forever 21 também, numa promoção estilo Lojão da Economia New, com shorts por 4 dólares em zilhões de modelos diferentes. Pensa numa pessoa feliz! Peguei 8 shorts e fui pro provador. Agora pensa numa decepção... A gente que nasceu com “bumbum de brasileira” (sério, as pessoas pedem pra ficar com bumbum de brasileira nas clínicas de estética ou de plástica) não tem nem como comprar shorts em seções comuns. Não cabe! Ficou perfeito na cintura e nas coxas, mas quando eu olhei pra trás... Que fiasco! A bunda toda achatada, uma proporção imensa... Um erro! Ahahhhah não levei shorts nenhum e ainda fiquei com “ai meu deos que merda, engordei”, aí que me explicaram que pra quem tem corpão (tenho corpão mesmo, lide com isso) existe uma seção especial, então quem for comprar roupa nos EUA fica atenta pra provar tudo e na dúvida, procure roupas pra “Curvy Girls”.


Enquanto eu escrevo esse texto minha roupa está lavando, naquelas lavanderias iguais às de filme, onde você paga 1 dólar pra lavar e outro dólar pra secar (aqui no housing tem várias dessas, e não é luxo não, ter uma lavanderia em casa é sinal de que Deus sorriu pra ti e tu ficou rico) e eu estou sentada numa mesinha muito agradável, embaixo de um pergolado lindo, olhando as montanhas. Talvez a foto fique boa, talvez não. E isso também é frustrante. Metade do que me enche os olhos não consigo captar em fotografias: as figueiras imensas do Aldrich Park não ficam majestosas nas minhas fotos com o celular, os jardins de rosas da universidade – cara, existem vários jardins com rosas na universidade – não ficam bem retratados nem em fotos com a câmera... Mas o que dói mais é não conseguir uma foto boa das montanhas, são lindas demais! Aqui de onde estou vejo o estacionamento, o começo do housing vizinho, as árvores e lá no fundo uma cadeia de montanhas tão lindas!!

O dia a dia em uma cidade que não é a tua de origem é bem curioso porque tudo o que vemos enche os olhos, enche o peito, faz pensar. Cada dia é uma nova Rosemary que acorda, cada Rosemary que acorda é uma Rosemary que se encanta com os gramados mais diferentes que já viu, com suculentas ou alecrins no lugar da grama; cada Rosemary diferente fica ainda mais diferente quando percebe que o mundo é todo igual em qualquer canto do mundo, o que torna tudo diferente e nos dá a vontade de conhecer o mundo inteiro é apenas a vontade de parar para respirar, para espiar, para cheirar, para sentir todas as sutilezas cotidianas que costumam passar desapercebidas no nosso lugar de origem. E aí eu penso: não existe lugar comum. Nem que eu queira. 

 

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

O cheiro de Irvine, ou sobre como tamanduás de roupinhas são fofos.

Chegar numa cidade nova pode ser encantador ou broxante.

Chegar em Irvine foi como chegar na casa da avó da gente, quando a gente gosta da avó. Irvine cheira bem e o ar era fresco, mesmo com o calor de uns 25 graus que estava fazendo.

Eram duas da tarde aqui, portanto, seis da tarde no Brasil. Tudo o que meu corpo queria descansar. Comer algo quente, tomar um bom banho, deitar. Porém... Eram duas da tarde aqui, o sol estava a pino, a gente estava com um carro alugado e precisava aproveitar pra comprar as coisas pra mobiliar nosso apartamento, que ficaria disponível dali dois dias. Por mais que o corpo pedisse pra descansar, eu ainda estava mentalmente bem atenta, porque por mais que eu não acreditasse nisso, o corpo dá uma bugada feroz com a mudança de fuso, de pressão do ar, de altitude... Quando sentei dentro do apartamento da moça que nos recebeu, comecei a marear, exatamente igual quando a gente vai pra alto mar e fica duas, três horas navegando. Deu tontura, enjoo, mal estar. Todo o labirinto que havia levado horas pra acostumar a ficar ‘trimilicando’ levaria dois dias inteiros pra se acostumar com estar em terra firme novamente.

Levei uns dez minutos pra conseguir usar o banheiro, lavar o rosto e trocar de roupa, porque ao contrário de Curitiba ameaçava esfriar e me obrigou a viajar de calça e bota, em Irvine o sol estava firme e o céu super azul. Minissaia porque era o que estava na mala de mão, chinelo porque era o que cabia no pé e bola pra frente. Entramos no carro e como bons brasileiros fomos comer comida chinesa servida por uma japonesa num complexo de restaurantes americanos. Yakissoba mais apimentado que provei na vida, suco mais doce que bebi na vida, mas pelo menos deu energia pra seguir pra um lugar bem curioso, chamado Ikea.

A Ikea é uma mistura de Casas Bahia com Casa China, encontramos canecas de porcelana por 49 centavos, e jogo de quarto por setecentos dólares. Uma pechincha. Li um texto hoje que diz que o melhor lugar do mundo pra ser classe média é o Brasil, e isso é verdade. Na Ikea você paga uma taxa de uns cem dólares se quiser escolher o produto do showroom, pagar e ir embora. Agora, se você for uma pessoa com uma realidade de mundo mais prática e que dá até nó em pingo d’água pra economizar dinheiro, a loja oferece a seguinte opção: Vá até o térreo, pegue peça por peça dos seus móveis (literalmente) e leve num carrinho enorme até o caixa, depois leve o mesmo carrinho até o local onde os móveis precisam ser despachados, caso necessite de entrega (que foi o nosso caso) e pague outra taxa caso precise que os móveis sejam montados, porque só no Brasil a profissão de montador de móveis é vista como “nossa, tá cobrando tudo isso? Caro demais!!”, aqui se paga – e se paga bem – até pra apertar um parafuso.

Falei que só no Brasil é fácil ser classe média? Então, eu sou estudante aqui, nem tenho classe... aahhahaha Mas se quiser mordomias e gente fazendo coisas pra você, tipo montar móveis ou carregar as chapas do seu próprio guarda-roupas, prepare-se pra desembolsar mais da metade do seu ordenado, porque tudo na mão é só na terra brasilis mesmo. Somos mal acostumados e nem sabemos...

Eu já não me aguentava em pé, o marido que é branco estava com olheiras marrons bem profundas, mas ainda não era hora de dormir, por mais que fosse dez da noite aqui e cerca de duas da manhã no Brasil, e, portanto, horário do nosso relógio biológico.

Aproveitamos pra passar no Walmart pra comprar alguma coisa pra comer pro dia seguinte, e coisas urgentes que não tínhamos, tipo pasta de dente e sabonete. Inclusive, esse tal shampoo da moda, o Aussie, é pouco mais de 6 dólares aqui, exatamente como o Pantene. Ah, não só a embalagem do Shampoo, o kit com o condicionador junto é 6 doláres.

Chegando no apartamento da nossa anfitriã, que mora num prédio de 3 andares sem elevador, porque elevador não precisa, né gente, vamo malhar pernas, pensei numa coisa engraçada: foi o primeiro lugar do mundo em que vesti saia e chinelo de dedo e me senti super bem vestida. Era como se eu tivesse super arrumada, quando só estava muito confortável.

No dia seguinte acordamos realmente cedo e fomos fazer meio zilhão de coisas até entregar o carro, inclusive tomar café da manhã na rua. Café da manhã que fiz questão que fosse bem americano: Torradas, ovos mexidos e o bacon mais crocante que comi na vida, o café em si, porém, muito fraco, não gostei não.

Depois de entregarmos o carro, perto das duas da tarde, fomos pro escritório do “condomínio” resolver papeladas pra pegarmos a chave do ap no dia seguinte. Mesmo com a correria conseguimos olhar um pouco da universidade de Irvine e ela é linda. Tem árvore por tudo, tem gente ‘pelada’ por tudo (se você acha que tua roupa aí é curta, meu irmão...) e tem um dos comportamentos masculinos mais amáveis que vi até agora: nenhuma cantada, nenhuma olhada invasiva, nenhum constrangimento. Ainda não sei se em todo os lugares é assim, ou se é assim o tempo todo, mas provavelmente nunca me senti tão à vontade em usar roupa curta, sem me sentir um pedaço de picanha.

Lá pelas quatro da tarde recebemos uma ligação bem bacana: a nossa mala perdida estava nos esperando à nossa porta. Se eu fiquei preocupada achando que nunca mais veríamos a bagagem? Em nenhum momento. Sempre achei que seria entregue em um ou dois dias, porque a bagagem estava com código de rastreio e em momento algum ficamos sem saber informações dela (acho que a mala só queria passear, ela foi pra Houstoun, pra Austin, pra Los Angeles e daí pra Irvine), então quando pegamos a mala não foi tão eufórico assim, mas foi bom, bem bom.

Depois da mala em mãos restava apenas comer, tomar banho e dormir, e estávamos tão exaustos que às oito da noite já estávamos na cama. As seis e meia da manhã do dia 4 já estávamos de pé, recompostos e felizes. Esperamos o banco abrir pra poder registrar a assinatura (o horário comercial aqui é das 9 às 17:00, quer algo mais genial do que não precisar madrugar e ainda sair do trabalho com tempo de aproveitar o fim do dia?) e aí ficamos esperando dar o horário pra pegarmos a chave do apartamento.

Por que tanta preocupação com o apartamento? O que estamos fazendo aqui? A comida é diferente? A coca tem outro gosto? É barato comer? É barato viver? É o sonho americano morar na Califórnia? Lá na frente eu conto...

Por enquanto, gostaria de dizer que essa coisa de “a cultura é diferente”, “no Brasil não tem cultura”, “isso sim é que é país”, é muita balela. Não funciona assim não, tem milhares de coisas no Brasil que tem qualidade infinitamente superior. O que realmente dá pra sentir de diferença é a educação. Quando fomos ao banco eu estava de tênis, bermuda e camiseta, o maridão de regata e bermuda, ambos com sacolas nas mãos, porque aproveitamos o mercadinho (caro...) que havia perto do banco. Logo pensei que iam fazer pouco caso da gente, porque estávamos mal vestidos... Bobagem! A atendente dentro do seu tailleur curtíssimo com um decote imenso nos atendeu como reis, foi gentil e educada como todos os prestadores de serviço devem ser (não como a moça do Banco do Brasil que me disse: “fiz tudo o que eu pude, você não tem o direito de estar chateada) e isso se estende a todos os atendentes e funcionários públicos que vi até agora. Nos escritórios da faculdade te oferecem café, chá, limonada, frutas e biscoitos só por você ir lá pedir informação.

A cultura não é melhor ou pior, mas a educação é muito diferente. É gentil sem ser invasiva. Gostei bastante.

Estou feliz, experimentando cada primeira experiência exatamente igual uma criança de alguns meses experimenta o mundo.

domingo, 6 de setembro de 2015

A primeira vez, ou sobre como cheguei em Irvine.

Não que eu quisesse estar escrevendo agora, com os fones de ouvido desligados e essa vontade de dormir, mas pelo visto a vontade de contar causo é maior que tudo.

Naquele dia eu fui voar de avião pela primeira vez. Voar de avião? Andar de avião? Não sei bem como dizer, mas o fato é que eu nunca tinha entrado num avião antes. Malmente tinha ido num aeroporto.

A crise de riso foi algo quase imprescindível, como quando alguém me conta algo ruim, ou como quando eu fico com muita vergonha ou ansiedade. Ri até chorar. O avião subindo e eu rindo e rindo e as lágrimas escorrendo e eu apertando a mão do meu namorado e rindo e chorando e rindo e chorando e falando como aquilo era surreal e maravilhoso, e era mesmo. Realmente era. Ver a cidade ficando pequenininha e as nuvens ficando cada vez mais brancas é uma coisa tão surpreendente que tira o ar; tira o ar e te coloca no eixo. O voo foi rápido, ou melhor, os quarenta minutos mais rápidos da minha vida. Nem tinha acostumado com estar fora do chão e já me achava apertando o braço da poltrona porque a decida se aproximava: mais choro. Ainda assim, ver a cidade cada vez maior, mais nítida, mais perto, é muito mais bonito do que ver a cidade ficando longe. A aterrizagem foi boa e tranquila, e logo eu estava em São Paulo, naquele mundaréu de gente e de barulhos, num aeroporto imenso.

Primeira chateação foi a de esperar a companhia abrir as portas, o que seria quase duas horas depois de quando chegamos, depois disso veio o primeiro soco no estômago: voo cancelado. Como assim foi cancelado? O que houve? O que vai acontecer agora? Mais vários minutos e conseguimos ser realocados em aeronave de outra companhia. Só que invés do horário inicial previsto, o outro voo sairia duas horas ainda mais tarde: 6 horas de aeroporto. Não bastasse isso, a aeronave atrasou em quase uma hora. Ganhamos bolachinhas e snacks da companhia aérea, mas eu queria mesmo era ir logo. Deu medo quando soube que a aeronave anterior tinha sido ‘bloqueada’ por problemas na manutenção, aí já fiquei cheia de minhoca na cabeça. Minhocas que morreram absurdamente rápido com o filme e o jantar do avião. Macarrão com queijo, salada e vinho. Chique, né? Tinha bombom de sobremesa. Comi metade disso e dormi por umas 4 horas, o que foi bom, já que o voo era de 9 horas... Quando acordei e pude ver o sol nascendo entre as nuvens fiquei besta, besta mesmo. Eu estava ao lado do sol, sabe como? Aqueles raios alaranjados, aquele brilho azul e o branco cintilante... Recomendo que você tenha essa experiência um dia.

Chegando em solo estadunidense tive o primeiro choque cultural: a quantidade de negros trabalhando no aeroporto é maior do que a quantidade de negros que eu via em um dia caminhando por Curitiba. Achei ótimo ver isso. Negros exercendo cargos que não são os que comumente vemos no Brasil, como empregados de limpeza ou garçons. No aeroporto eles eram a maioria e eu amei.

A voz das pessoas foi o meu segundo choque cultural. Todas as pessoas que ouvi tinham a voz bastante grave e pareciam todos atores e atrizes de seriado. Tudo ficou meio caricato pra mim, principalmente quando apareceu o agente da alfândega que era mexicano, com a cabeça raspada, um corpo escultural e um bigode com cavanhaque: ele parecia personagem do Miami Vice. Vai ver era. Vai ver eu estava numa pegadinha, sei lá.

O agente da alfândega foi cortês e gentil, e não entendi porque todos falam que é ruim passar na alfândega, já que o procedimento é simples e completamente explicável. Inclusive, lembre-se sempre de ir com sapato fácil de tirar e com o notebook/tablet/celular em lugares também fáceis, porque eles precisam passar pelo raio-x.

Liberados da alfândega restava despachar novamente a bagagem (que pegamos pra poder passar na alfândega...) e ir pro portão de embarque, mas não sem antes escovar os dentes e lavar o rosto, que já estava com a maquiagem gasta e com aparência de cansaço extremo. Apenas uma hora de conexão e veio o terceiro tiro no pé: fuso horário. Pegaríamos o voo as onze da manhã, com previsão de chegada ao meio dia e meia. Ok, ótimo. Eu só não contava que estava em Atlanta e que isso é literalmente do outro lado do país com relação à Califórnia. Mas afinal, o que isso significava? Significava que o voo seria de quatro horas, e não de uma hora. Onze da manhã em Atlanta é sete da manhã na Califórnia e o horário marcado no cartão de embarque era previsão para a chegada em San Diego, independente do fuso. Ok, bora lá.

Pior dos três voos, não só pelo cansaço, mas pela turbulência. Quatro horas de voo tremelicando na poltrona. Enjoo, mal estar, cansaço e musiquinha do Gilberto Gil pra animar. O legal dos voos grandes é que tem uma tela em cada acento, então todos podem ver o que bem entenderem. Eu resolvi pintar meu livro de colorir para adultos e recebi elogios de várias aeromoças, sim, eu sei que é comissária de bordo, mas esse nome não tem tanto glamour quanto o outro, e isso faz toda a diferença.

Chegando em San Diego restava buscar as malas e finalmente... Pegar um carro e dirigir até Irvine. Mas, cadê a quarta mala? Só tem três? E agora? Agora era reclamar com a companhia, preencher papéis, blábláblá, tomar água no bebedouro e descobrir que a água da costa oeste é lazarentamente salgada, sair do aeroporto num calor de 100 fahrenheits e ir até a locadora de automóveis, que tem um ônibus bem bacana que vai do aeroporto pra locadora em minutos, com a motorista mais gentil que já vi, e por curiosidade, também negra.

O interessante da locadora de automóveis é sorrir e acenar quando tentarem te vender seguro até do seu dedinho do pé: importante em situações de batê-lo na quina. Conseguimos sair de lá sem contratar nada a mais do que precisávamos e isso foi o máximo. O carro era dos sonhos: Nissan Pathfinder. Todo enorme, todo automático, todo amor maior, todo meu deus isso não tem chave isso liga num botão mas não liga se o freio não estiver acionado isso me deixa confuso pelo amor de deus dirige pra mim opa não dirige não porque o l h a i s s o e s s a r o d o v i a t e m c i n c o p i s t a s.

Cinco pistas. Largas. Enormes. Boas. Lisinhas. Um sonho.

Em algumas alturas da rodovia existe o carpool, que é uma pista exclusiva pra quem dirige com duas ou mais pessoas no carro. E os motoristas respeitam! Genial isso!! Quem leva carro com mais gente tem prioridade sim, e isso é ótimo porque estimula as caronas!

Depois de 14 horas dentro de aviões, 28 horas entre aeroportos e voos e duas horas dirigindo, chegamos na bela e ensolarada Irvine, nossas primeiras horas na cidade foram incríveis e agitadas, mas isso é outra história...

Por agora só acho importante dizer: é interessantíssimo dormir em um continente e acordar em outro. Recomendo.


quinta-feira, 12 de março de 2015

Manual de bons modos em casamentos

Casei!!!

É, casei. E foi bem legal. E foi MA RA VI LHO SO!

Mas os noivos tem que ouvir cada coisa, que não resisti em copiar o "Manual de bons modos em Livrarias", mas voltando o tema pro casório, já que a maioria das pessoas beira a insanidade quando fala com os noivos, quando dá conselhos, quando quer ajudar onde não deve e acaba atrapalhando.

O negócio começou quando anunciamos o noivado:
"Mas já???" "Ué, a Rô tá grávida? Pq se ela tiver, você sabe que não precisa casar, né? é só assumir!" "Mas vocês não acham melhor viajar/investir o dinheiro em um carro/casar só no civil/fazer só um jantar/deixar pra mais tarde?"

Se o casal anunciou o noivado, é pq estão seguros da decisão. Ninguém anuncia nada só pra brincar. E se quiserem casar só pq alguém engravidou, ok, a decisão é só deles. 
Não importa o teu grau de proximidade, só opine sobre casamento se te for perguntado. Mesmo.

Aí nós divulgamos a data, com uma 'brincadeira' que fiz pra ele no facebook: "#90dias90MotivosPraTeAmar", pq a festa de casamento seria dali 3 meses (mas já estava planejada e estruturada há um ano, mas a data que conseguimos foi essa). Na mesma hora uma pessoa postou: "Não, não casem dia 28! Eu não vou poder ir!"

Nunca peça pro casal mudar a data, nem se você for pai da noiva, nem se for padrinho de honra, nem que você realmente não possa ir ao casamento. Eles escolheram a data por um motivo (no meu caso, foi pq é o mesmo dia do nosso aniversário de namoro), e é importante manterem nesta data.

*Antes de dar QUALQUER opinião sobre o casamento, certifique-se que foi convidadx, pra não ter gafes. Ah, isso também é válido se você for da família.

Entregamos alguns convites e eu ouvi: 
"Agora, com a internet, pq vocês fizeram convites? Poderiam usar o dinheiro pra outra coisa!" 
E teve também a segunda opção, depois que fiz um evento no facebook pro casamento (tipo um 'save the date'):
"Me recuso a confirmar presença! Quero um convite impresso pra guardar de lembrança!"

Ambas situações constrangedoras.
Primeiro: Fiz convite pq acho bonito. O orçamento do casamento só cabe aos noivos. Acha caro? Dá ajuda em dinheiro. Sempre bem vindo.
Segundo: E se não tivéssemos convites impressos? Você não iria no casamento? Chato isso. Deselegante até.

Nosso casamento foi uma festa temática, normal os convidados ficarem com dúvidas no que vestir, mas olha, a internet é uma ferramenta maravilhosa. Dá uma saidinha das redes sociais e procura no google o que vestir referente ao tema... É fácil. Juro.
E quando a festa for temática, nunca, nunquinha seja a pessoa que diz:

- "Mas você não tem vergonha de casar assim?"
- "O noivo topou isso mesmo, ou ele tá fazendo a contragosto?"
- "Hum... Festa cigana é? Mas você nem é cigana (ou mexicana, ou nascida nos anos 40, ou atriz de Hollywood)! Fica estranho, né?"

*Novamente, se o casal decidiu fazer uma festa assim, apenas entre no clima e se divirta. Se não gosta do tema, achou brega, ficou envergonhadx... Não faça o mesmo no seu casamento e pronto! 

Como somos amantes de frutas, e eu detesto fruta com chocolate, decidimos que invés de docinhos, faríamos uma mesa de frutas, pq são frescas, porque não tem açúcar pra deixar criança pilhada, pq os intolerantes à lactose (na família temos 4 pessoas!) e ao glúten podem aproveitar à vontade. Aí vem a pessoa e...

- "Ué, só fruta? Sem calda nem nada? Que estranho..."
- "Mas tem gente que não gosta de fruta... Docinho é melhor!"
- "Sabia que doce é mais barato que fruta?"
- "Certeza que não vai ter calda? Eu posso pagar pra vocês, se quiserem."

* Mesmo se oferecendo pra pagar, cara, que chato. Cardápio é escolha DO CASAL. Somente. 

Uma variação sobre o mesmo tema foi: 
- "O que vocês vão servir no jantar? Massa? Só isso? Não é pouca comida?"

*Se fosse uma das mães dizendo isso, beleza, a gente entende. Mas quando x convidadx diz isso dá uma vontade enorme de dizer: AMIGUE, SE VC VAI SÓ PRA COMER, FICA EM CASA. BJAS. Tipo, os noivos estão o tempo todo preocupados em fazer uma festa legal e oferecer o melhor pra todos aqueles que vão participar da celebração pública. Não encha a cabeça deles com bobagens. Se não gostou do cardápio, sorria, acene e coma muito bem em casa antes de ir. 

Sobre oferecer ajuda e ser solícito:

Se se ofereceu para ajudar em alguma coisa da festa, ajude. Mesmo que seja pra cortar papel pra fazer confete.Fiquei na mão na semana do casamento, e até no dia do casamento tive que 'tapar uns buracos' de gente que me prometeu ajuda e furou. É chato e desgastante. Contrapartida, teve quem me ajudou sem eu nem precisar pedir, e foi um 'bálsamo' pra minha alma e pro meu peito que estavam pequeninhos com os furos. 

"Posso levar minha namorada pro casamento?" "posso levar minha mãe pro casamento?" "Não quero ir sozinhx... Posso levar um amigo?"

A primeira coisa que o casal faz num casamento, é a lista de convidados. Sério. Qualquer coisa vem a partir daí. E cada pessoa a mais no casamento é um gasto de cerca de 50,00 reais. É caro, é puxado. Se você foi convidado e sua namorada não, pense nisso como um presente, pq daqui uns anos vc vai olhar as fotos e perceber que estragou todas as fotos do casamento com uma mina que vc nem namora mais (ou um cara, cê entendeu)... 

Nós convidamos apenas as pessoas realmente importantes para nós, que nos ajudaram em algum momento, que conviveram conosco e que nos serviram de espelho. Se a gente não conhece seu amigo, sua prima, seu namorado, a mãe da irmão da tia da vizinha da tua prima em segundo grau, será bem constrangedor sermos apresentados a alguém no dia do nosso casamento. É estranho. Trust me.

"Ah, mas fulano é da família. Vocês não vão convidar o fulano?"

Acho importante falar disso porque foi um 'frisson' na nossa festa por conta dos convites...
Decidimos chamar pessoas do nosso convívio, o que excluiu parentes que víamos apenas uma vez por ano, ou que não sabiam o nome do respectivo cônjuge. 

Casamento é a festa dos noivos. Não da família deles. Não dos amigos deles. É a festa deles, para eles. Ainda mais quando a festa é pequena (a nossa foi pra 65 pessoas). 
Decidimos que eu chamaria as pessoas do meu lado da família, e o Daniel não poderia opinar sobre, assim como ele chamaria as pessoas do lado dele da família, e eu não opinaria sobre. E assim foi.

Na semana do casamento havia gente pedindo que convidássemos pessoas da família "pra não ficar chato". O que é mais chato? Deixar de ser convidadx pra um evento que está sendo preparado a meses, ou ser convidadx faltando 3 dias pra festa pq alguém decidiu que família completa é uma coisa obrigatória? 

No meu lado da família a gente tem muitos problemas, mas uma coisa que sempre foi clara foi: "se não te chamei foi pq não pude te chamar, sei que vai entender e não vai ficar chateado com isso". E é importante que seja assim. Mesmo que o casamento seja uma festa muito importante, se você ama os noivos, se eles são queridos para você e ainda assim não te chamaram, eles devem ter as razões deles. Cabe a você ter a elegância e o respeito em abençoar a aliança do casal e não guardar mágoas.

E o mais legal de quebrar estes paradigmas é que quando minha cunhada ou minhas primas, ou meus sobrinhos se casarem, é que eles não vão precisar chamar ninguém - nem eu - por obrigação. Eles vão poder chamar quem quiserem e como quiserem, e isso é lindo. E em todos os casamentos deveria ser assim.

"Ah, mas não quero ir nesta festa por x motivos. E agora?"

Decline do convite. 

Dói, dói sim quando alguém declina do convite. Você fica meio bobo, pensando no que aconteceu pr'aquela pessoa não querer ir no evento mais importante do mundo pra você. Mas aí passa e você entende que cada um tem seu tempo, e que assim como tem gente que você não quer convidar, tem gente que não quer ir.

Mas decline do convite em tempo. Não faça isso dois dias antes, nem uma semana antes. E pra ser bem sincera, não mande um sms pra noiva, horas antes do casamento, dizendo que não vai ir. É bem chato. Como eu disse antes, cada pessoa custa aos noivos cerca de 50,00 reais. Confirmar uma festa de 100 pessoas e irem apenas 12 é chato, é triste demais, e é caro.

- "Ah, mas eu acordei meio gripado..." 
*Sério, sério mesmo?
- "Ah, mas eu não tinha roupa...."
* É só por isso que convites são entregues com antecedência. Pra que dê tempo de se organizar com isso.
- "Ah, mas eu não conhecia ninguém...."
* Uma festa é um bom lugar pra se conhecer gente. Apenas avisando. 
- "Ah, mas eu precisei trabalhar no dia...."
*Novamente, é pra isso que convites são entregues com antecedência. A não ser, é claro, que você seja médico, aí vc não tem vida e tal. Aí tudo bem.

"Olha, eu não vou no teu casamento porque não acredito em casamentos."

Essa aconteceu com uma amiga, mas achei tão horrorosa que precisei relatar.
KIRIDINHA, não acredita em casamentos? Não case. Mas não me venha com discurso político comportamental dizendo este tipo de bobice. É descabido, sabe? É tipo como se eu odiasse cachorros e tentasse te convencer a dar seu cachorro porque eu o odeio. Você provavelmente riria e mandaria à merda. Mas cabeça de noiva... Cabeça de noiva é um mundo paralelo, a gente não tem resposta pronta. Não lembra de mandar à merda. Então, seja caridoso e não fale bosta. 

Agora umas dicas rápidas sobre como se portar em 90% dos casamentos, e não só sobre os trelelês que ouvi e vi:


  1. Vestido curto, daqueles na metade da coxa (e pra cima) são pra balada, pra festas menos formais... Em casamentos, opte pelos longos, longuetes e no máximo pros vestidos um ou dedos acima do joelho, se a festa for durante o dia. 
  2. Se a festa for em chácaras, não vá de salto fino. Mesmo.
  3. Meninos, jeans e sapatênis é roupa de baladinha. Custa nada um terno bem alinhado, ou mesmo uma camisa bonita numa calça social.
  4. Não fique bêbadx em casamentos. Pode ficar bêbadx no réveillon, na festa da firma, no churras da galera. Mas o casamento é pensado com tanto carinho e com tanto cuidado, que alguém 'mamado' e cantando a mãe da noiva é uó. 
  5. Bem-casados e lembrancinhas são feitos, geralmente, um pra cada pessoa. Se estiver em família, combine antes para que cada um pegue o seu, ou para uma pessoa pegar o de todos. Digo isso pq já fiquei sem lembrancinha e sem bem-casado porque alguém decidiu pegar pra todos, e aí alguém não sabia e pegou pra si e pro outro e por aí foi.
  6. Não presenteie os noivos com adereços PARA SEREM USADOS NO CASAMENTO. É muito constrangedor receber, por exemplo, brincos, quando você já decidiu a meses o que vai usar.
  7. Seja discreto e respeite o momento dos noivos. Não fique pendurado no pescoço deles durante o jantar, e não os alarme dizendo que algo errado está acontecendo durante a festa. É por isso que temos cerimonial.
  8. Nunca é demais falar, então, a não ser que o código de vestimenta estipule, não use branco. Nem bege claro, nem aquele prata que parece branco. 
  9. Os noivos estão em estado de euforia durante a celebração, então, não se chateie nem faça brincadeiras bobas caso eles não tenham ido à sua mesa cumprimentar, ou algo assim (Eu, por exemplo, não sei até agora com quem eu falei. E pra ser sincera, só acreditei que dancei a valsa inteira quando vi gravado, então imagina como tava minha cabeça!)
  10. DI VIR TA - SE! Casamento é uma festa legal, pra gente se sentir à vontade, celebrar o amor, rir, fazer amigos, rever amigos, comemorar a aliança do casal e aproveitar o momento. Não vá emburrado, não vá pra fazer barraco, não vá se sentindo pouco à vontade com a roupa que está usando... 
Meu casamento foi a festa mais bonita, colorida e animada que já vi na vida. Eu A M E I cada segundo, e gostaria que todxs xs noivxs do mundo tivessem uma festa tão linda e legal quanto a minha. Assim, este texto não é um livro de indiretas, muito pelo contrário! É um apanhado de dicas pra quem realmente tem dúvidas em como se comportar com relações a festas e a noivos. Os tempos mudaram, e graças ao bom Deus, cada um casa como quiser, e se quiser, então, se perguntadx, tenha tato para responder e orientar, se não perguntadx, se resguarde e preserve a amizade e o respeito da família que está se formando. ♥♥♥

domingo, 18 de janeiro de 2015

Aquela dos 26...

"Ando de vagar porque já tive pressa e levo este sorriso porque já chorei demais. Sofri demais.

Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe..."

26 anos. Caramba. Lembro de quando fiz 17 e chorei o dia todo por que não queria envelhecer. Bobagem. Hoje, com 26 me sinto linda, mais charmosa, mais calma e muito, muito mais centrada.

Sinto que o tempo que passa é meu amigo, e que não há nada neste mundo que possa me derrubar, a não ser eu mesma.

Tô serena. Me frusto com as falsidades e as 'convenções sociais' da vida, mas sei que isso precisa acontecer por que o mundo está nesta vibração de ajustes e medos, mas confio também que logo as pessoas todas vão conseguir ser mais 'gente fina, elegante e sincera", de dentro pra fora.

Com 26 anos tenho mais segurança pra dizer que o mundo é lindo sim, e que há gente escrota e legal, e que a mesma pessoa pode ser escrota e legal, e tudo bem, por que todos somos multifacetados, e isso é maravilhoso.
Sei, agora, que todos podem mudar, e que isso é crescimento. E o crescimento é epicêntrico, como sempre disse o meu primeiro Dirigente Espiritual. E isso quer dizer que quando uma pessoa se afunda na sua própria lama isso também é crescimento.

Cada um vai onde consegue ir. Cada um vai até onde consegue ir.

Hoje, com 26 anos, entendo melhor meus limites e minhas vontades, e respeito o fato de que às vezes a minha vontade de 'não ir' ou 'não fazer' é, também, um limite que me imponho. E tudo bem por isso.

Teve quem me disse, ontem, pra eu não me preocupar que eu estou 'na flor da idade' e eu tive que rebater. Envelhecer é lindo. Ser cada vez mais madura é lindo. Poder aproveitar meu corpo perfeito, minhas descobertas, minhas decisões é lindo. E só posso fazer isso por que estou envelhecendo.

E envelhecer não é limitar. É expandir.

Imagina com 40, 60, 80 anos, o quanto eu não vou ter aprendido, ensinado, dividido?

Então, que venham muitos e muitos e muitos e muitos aniversários.