terça-feira, 14 de outubro de 2014

A Vida, aquela cadela.

Disseram que amanhã vai chover. 

Dizem tanta coisa. A cada 2 ou 3 anos dizem que o mundo vai acabar. Disseram que a nova epidemia vai ser pior que a última e dizimar a população. 

Disseram que a raiva do cão que mordeu era fatal e que eu morreria babando e ganindo. Adotei o cão. Chamei ele de Morte. Disseram que eu era louca e queria chamar atenção. Grande coisa. Disseram que eu sou louca desde que nasci, e nunca soube o que isso significava. Disseram que Morte me mataria, mas Morte foi a minha melhor companhia. Não me mordeu de novo, como disseram que faria, e num dia de frio Morte me disse que só me mordeu porque estava com raiva da Vida, aquela cadela. Disseram que estava na hora de arranjar um marido que me colocasse nos eixos, mas estava tão perto da Morte que nem pensava em achar ninguém. Disseram que eu morreria seca sem filhos, respondi que tem gente com 10 filhos que ainda assim morre seca. Disseram que me arrependeria de ser instável, Mas Morte era tão atrativa que eu não liguei, e continue brincando com ela, dia após dia, e nos tornamos irmãs de alma. Levei a Morte comigo por onde passei, e nem sempre havia tristeza. Disseram que estava velha e maluca, mas quem estava a velha era a Morte. Eu já tinha acabado. Não, a Morte não acabou comigo. Já fui dona da Vida, e ela é que foi me fechando, me cortando, me ferrando... Quando a Morte chegou me senti livre pra voar do precipício. Sem raiva, sem medo. A companhia da morte me libertou. 

Disseram que morri, mas na verdade eles é que morreram. 

Eu fiquei tão amiga da Morte que nada me levaria. A Vida é uma cadela de rua, manca, com as tetas caídas, acuada de medo. Eu já fui dona da Vida. Morte é o cão de raça altivo, forte, e que até com raiva é elegante e justo. 

Disseram que eu era anormal, mas ainda assim escolhi ficar com a Morte e deixar a Vida pra outro. Não me arrependo.


Disseram que ia chover e não choveu. Eles nunca acertam.