domingo, 23 de setembro de 2012

Seu Oscar.


Seu Oscar era um senhor que nunca envelhecia. Parece que sempre tinha os mesmos 50 anos.

Ele fez parte da minha infância e adolescência, sempre esteve ali, com a mesma idade, com a mesma pele negra, com o mesmo sotaque interiorano.

Seu Oscar vendia queijo de casa em casa, lá no bairro onde eu morava. Era um queijo bem suculento, bem amarelinho, mas minha mãe gostava mais do queijo cascudo; aquele que seca e fica um amarelo queimado, (nesta altura da vida, amarelo queimado deve ter outro nome, tipo ocre ou fucsia ou burgundy) e mães sempre têm efeito gigantesco sobre a dieta da família, então comíamos o queijo cascudo e sequinho invés do mais suculento. 


Minha família não tinha muita grana pra luxos ou coisas que saíssem do essencial. Só o pai trabalhava e éramos em 5 irmãos e mais minha prima que era orfã e morava com a gente. Haviam duas beliches no "meu" quarto, era divertido dormir com a galera toda. Eu achava, pelo menos. De forma geral o povo odiava, porque ser adolescente e dividir quarto é a treva. Mas eu era criança, e pestinha, então tudo bem.

As vezes pagávamos o queijo à vista, às vezes o Seu Oscar "marcava" pra gente. Acho que ele fazia isso com todos os vizinhos, porque ele sabia que a vida não era assim tão fácil. Numa das vezes que pedimos para ele marcar, ele disse que não iria aparecer por um tempo, porque faria uma cirurgia sei lá onde. Aí a mãe pediu o endereço dele, para que levássemos o dinheiro assim que desse. Um tempo depois fomos até a casa dele levar o dinheiro. Fique boba. Boba mesmo. A casa do Seu Oscar era um mega sobrado, com sacada, de jardim bem asseado, e com carros na garagem. E eu achando que ele só tinha a bicicleta velha.

A vista foi tão arrebatadora que aprendi a única coisa indistorcível, de todas as coisas que eu distorci: Pessoas são surpreendentes.