quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Um lugar Chamado Irvine

Não escrever sobre isso tem me feito pensar mais nisso, então, vamos lá.

Lembra quando eu falei que parecer estar num filme me dava ataques de pânico? Pois então. A roupa das pessoas, o cabelo, a fala, é tudo muito estranho. É muito estranho estar falando português com o Dan aqui em casa, abrir a porta e ter um mundo falando em inglês. A cabeça buga. A sensação é de que estando em outro país todas as pessoas vão falar a língua local, mas você é uma pessoa e não fala o tempo todo a língua local e existem gírias e maneirismos e isso é bem estranho. As novelas da globo que se passam na Índia com todo mundo falando em português deveriam ser banidas. Não faz sentido criar a ilusão de chegando em um lugar você automaticamente vai falar como um nativo. “Nossa Rô, mas vc é retardada da cabeça, né miga? É uma novela!” Sim, sou retardada da cabeça e sim é uma novela. Mas quantas vezes você já chegou na loja e disse “eu quero a blusinha da Babalu” ou no cabeleireiro e “corta pra mim que nem o da Odete Roitman”? Então, a gente cria um inconsciente de que será mais fácil se ambientar em lugares diferentes, quando na verdade não é. A não ser que você tenha saído de uma família cigana e mudado de cidade 4 vezes ao ano.

Para ter ideia de como a ambientação é uma coisa difícil, meu hálito mudou. Não sei ainda o que eu ando comendo por aqui, mas agora tenho mau hálito. Já descobri que donnuts me deixam com a gastrite atacada, é comer e passar o dia seguinte todo com muita dor de estômago. Já descobri que o leite não me faz bem também, mas ainda não sei  o que me deixa com o hálito ruim.

Falei sobre ambientação e hálito e esqueci o filme.

Eu odeio ETs, odeio mesmo. Tenho um medo tão grande, mas tão grande que eu nem sei como explicar. Já era grande, aí eu assisti a um filme sobre os malditos Greys que roubavam um garoto e pronto, ficou pior. Aí comentei com uma amiga sobre o medo, e ela disse que “nossa é verdade os Greys roubam crianças mesmo, eles são tipo uns piratas intergalácticos” e o caralho a quatro. Eu fiquei uma semana sem dormir. Sério. Um pavor absurdo. Tive que tomar tarja preta.

Teve a vez em que o maravilhoso do meu padrinho de casamento (bjs Gabe!) nos convenceu a ver um filme desgraçado de assombração que era baseado em fatos reais. Outra semana rezando muito pra conseguir dormir...

Aí, mais uma vez, você para e pensa: onde a maioria dos filmes de assombração se passam? Onde existem mais casos de pessoas abduzidas? Isso mesmo! Nos EUA! Já viu gente sendo possuída na Borda do Campo? Não viu. Viu gente sendo levada por uma nave em São José? Não viu. Só aqui que acontece essas desgraças, gente. Só aqui. Eu tenho preferido dormir durante o dia que à noite, pq eu já ‘viajei’ que levavam o Dan, aí eu fico meio ué da cabeça. 

Por que a vida é assim, você pensa que o filme que vai passar na tua cabeça é Um Lugar Chamado Notting Hill, quando na verdade o que passa é O Exorcista.



p.s.: Não consigo entender porque de repente o que eu escrevo ficou tão interessante.
Tem a ver sobre escrever de outro país? Tem a ver com ser sobre mim e pessoas gostarem de saber sobre a vida alheia? Eu gosto da vida alheia. Gosto de pessoas. Vai ver é por isso que o Championsip Vinyl está no ar há quase dez anos. O Rob Gordon fala só sobre o dia a dia (doentio) dele. Recomendo a leitura, o blog é muito bom.


domingo, 27 de setembro de 2015

Caillou estava certo, ou Como estar em Irvine me dá mini vontades de sumir.

Lembra quando você era criança e via o desenho do Caillou? Lembra-se da musiquinha? Pois é, “crescer não é tão fácil assim, cada dia na vida é uma nova surpresa!”. É assim que me sinto aqui. Crescendo, sem ser nada fácil.

Vocês que sabem inglês (ou qualquer outra segunda língua), por favor, ensinem seus filhos em mais de um idioma. Digo isso porque estou apanhando bem bonitinha pra aprender o inglês, que sempre foi a língua que eu mais odiei no universo. Inclusive, Universo, agora eu amo inglês acho lindo acho fácil adoro mesmo sério então por favorzinho com açúcar para de fazer essa língua ser tão difícil pra mim, obrigada.

Já passei por cada presepada que só eu mesmo... O atendente da lanchonete me perguntando qual ‘topping’ eu queria no café e eu respondi com “Rosemary”. Por um triz ele não colocou alecrim no meu café... Na verdade ele não colocou porque não tinha, pq se tivesse... Teve também o dia em que meu ID foi recusado na academia e eu não entendi nada do que a secretária disse, aí tiveram que chamar outro cara pra ajudar e o cara não entendia nada do que eu dizia... No fim voltei pra casa bem frustrada porque não consegui explicar que havia pagado a anualidade. Tudo bem, voltei lá depois e consegui – mesmo que com ajuda – me fazer entender. Mas na hora é mega frustrante.
Hoje, por exemplo, FINALMENTE consegui pedir um café com leite. Não fazia ideia de como falava isso, aí um colega ajudou: Caffé Latte é o café com leite, fica a dica pra quem ama o ‘pingado’ e não tem ideia de como se fala aqui. Aproveito pra lembrar que o café aqui é fraco, bem fraco. Nem o expresso é forte como os expressos do Brasil, aliás, o expresso é mais fraco que o café coado do (sul) do Brasil.

Essa semana fiz duas coisas que ainda não havia feito: Ir à academia e ir a um Pub.

Me senti parte de um filme quando entrei no pub (me sentir parte de um filme tem me feito ter pequenas crises de pânico), duas TVs, uma de frente pro balcão, ligada no jogo de beisebol e a outra na frente das mesas (mesas altas, com banquetas igualmente altas) ligada num jogo de futebol americano.

Ficamos na frente do balcão, então acompanhamos o jogo de beisebol e só posso dizer que é um jogo realmente genial. Muito mais emocionante que futebol, por mais que eu não faça ideia das regras... Ah, ao nosso lado no balcão estava uma mulher de uns 40 anos, com uma roupa toda bonita, tomando uma taça de vinho branco, enquanto um cara mais ou menos da mesma idade puxava papo com ela. O cara estava meio bêbado, foi engraçado. Ela não se incomodou com isso e logo estavam rindo juntos. Taça de vinho num balcão, ai que luxo. Achei o máximo (quem bebeu margaritas no balcão do taco me entende). Nós pedimos cervejas, o copo pequeno... O copo pequeno tem uns 700ml, e foi a cerveja mais alcoólica que já bebi. Forte, amarga, daquelas que a gente faz esforço pra tomar até o fim. Se bem que com meio copo eu estava literalmente bêbada. Aí o marido pediu bruschettas, imagina nossa surpresa quando a bruschetta chegou... No Brasil eu só vi esse aperitivo como uma fatia de pão francês com molho de tomate e pedaços de queijo por cima (ou outros condimentos e outros recheios, como queijo provolone e geleia – família fadanelli – por exemplo), aqui veio um prato com tomates cerejas cortados ao meio, um molho de azeite com sal e queijo ralado e uma ervinha verde que ainda não descobri o que é, com outro prato de torradas finas, feitas com pão francês. A gente achou super engraçado, não é um prato quente, como no Brasil, mas é um tipo de salada. Estava bom, o azeite de oliva aqui tende a ser mais puro que os vendidos em Curitiba, pelo que vimos. 

Aí bruschettas e mais um tanto de cerveja depois, eu ainda estava bem alegrinha. Fui pedir ‘tap water’ ou seja, água de torneira (aqui todos os estabelecimentos dão água de torneira de graça), aí a moça quase me serviu uma cerveja chamada Poter, pq eu devia estar bêbada o suficiente pra ela confundir water com poter. Ainda assim deixamos uma boa gorjeta com ela quando fomos embora, e isso é uma coisa importante de se dizer: deixe gorjetas. No Brasil eu deixava sempre que era bem atendida (além de pagar os 10%) e aqui o costume é deixar de 10 a 20% de gorjeta prx atendente, tendo em mente que 10% é pra um atendimento meia boca/ruim e 20, 25% é um excelente atendimento. Não deixar gorjeta é meio ofensivo e quer dizer que você realmente foi mal atendido, mal atendido tipo ‘nunca mais volto aqui’.

Ainda quero ir pra NY pra beber no Hooters. Imagina que louco? Acho que vou ficar me achando um monte, que nem quando fui comer na Cheesecake Factory (caro, mas excelente).

Aí no dia seguinte fomos pra academia (meu ID não passou de novo, mas dessa vez o cara simplesmente liberou pq “peloamordoamor todo dia essa mina aqui travada credo”), pela primeira vez pra malhar mesmo (das outras 3 vezes fomos pra conhecer, fazer inscrição e daí fazer aula experimental) e fiquei encantada com a opção de escolher em qual das “salas de aparelhos” eu gostaria de treinar naquele dia, já que existem duas salas (cada uma do tamanho de uma academia completa) completas, com aparelhos para todos os tipos de exercício, a diferença é que uma tem música alta e a outra tem televisões e não tem tanto barulho. Obviamente escolhi a segunda, mais calma e com menos gente. Vi aparelhos que só tinha visto na TV, como o TRX e um que não sei o nome, mas é um simulador de “subida de escada”, tal qual aparece no Biggest Loser. Acho que eu sou a próxima Biggest Loser. Quem sabe eu perco 20kg e viro a próxima Miss América de Fisiculturismo. Vai saber, né? Inclusive, aqui o peso é em pounds e eu tenho mesmo que perder 20 pounds, que em média é 10kg no Brasil. Se bem que eu tô meio que se dane o peso, eu quero mesmo é ficar forte, menos flácida, com nada de dor na coluna. Obvio que vocês sabem que se as costas doem é porque os músculos abdominais não estão firmes e não estão dando a sustentação necessária para as costas. No meu último mês em Curitiba meu corpo ficou uma quiçaça. Bunda ficou quadrada, coxa ficou mole. Acho que era a ansiedade me deixando torta. Isso e passar o dia no sofá, porque quando eu não estava correndo feito um cachorro fugindo, tentando resolver todos os pepinos que surgiam (e foram  m u i t o s ) eu estava no sofá morrendo (de cansaço, de angústia, de dor, de instabilidade emocional), enfim, com 25 dias aqui minha bunda já está durinha de novo, minhas coxas já estão mais firmes e sinto que quase tudo voltou ao lugar.

Falando em coxas... Como as roupas de academia aqui são feias! Com exceção de uns shorts bem curtinhos que deixam qualquer bunda perfeita, as roupas são muito toscas! Talvez porque o padrão de corpos aqui é menos curvilíneo e tudo fica um tanto largo, talvez porque o usual seja usar mais largo, enfim, saudades das roupas de academia que a Azaragata (bjs Fer!) vendia! Não que eu fosse uma compradora assídua, mas tinha uma leggins, blusinhas, shortssaia que eram muito lindos! Até agora a roupa mais bonita de academia são as leggins masculinas e os coletes masculinos pra malhar. As roupas masculinas dão de dez a zero nas femininas, essa é a real. Porém... Os homens malhados são, na maioria, estranhos. Imagina colocar o peitoral do Latrell no Neymar Jr, então, esse é o padrão dos ~~gatos sarados~~ daqui: perna finíssima e peito imenso. Não, o Jhonny Bravo não é um personagem imaginado, ele é baseado em como os caras que malham são. Deve ser por isso que a mulherada cai de pau nos latinos, porque mesmo que subconscientemente, o corpo simétrico dos ‘nossos’ homens é mais chamativo do que esse corpo de maçã-do-amor que os caras curtem cultivar aqui.

Sobre a academia ainda, eu chamo de academia porque tenho meio vergonha de chamar de clube, mas o Arc (vale a pena olhar o site) tem 4 quadras poliesportivas, 2 quadras de futsal (ou algo assim), piscina meio olímpica meio vou ficar de boas tomando sol, pista de corrida, parede de escalada, 4 salas de squash e acho que 4 salas para danças, sem contar a cozinha para cursos de culinária (cada atividade diferente, como as aulas de dança, capoeira ou culinária custam 40 dólares o trimestre). É um lugar enorme e tô bem cogitando a possibilidade de morar lá, escondida. Ah! Lembra que eu falei sobre as roupas de praia? Comprei um maiô que achei genial pra usar na piscina do Arc, me senti linda com ele, que tem o padrão de “estar coberta” que é usual aqui. Entretanto, como boa piriguete que sou, lógico que a primeira vez na piscina foi com o meu biquíni normal mesmo, com a calcinha que no Brasil seria normal, mas aqui é um escândalo de cavada.

E pra fechar, sabe o que eu descobri hoje de manhã quando um amigo nos levou tomar café da manhã? O apelido da esposa – paquistanesa – dele é “guria”, falado exatamente igual ao nosso “guria” aí do sul, e em Urdo isso significa Boneca. Fofo né? Sempre tivemos o inconsciente coletivo que nossas gurias eram bonitas, atrativas, maleáveis e representativas como bonecas. <3





















P.s.: Não achei melhores imagens. Me desculpem, mas algumas vezes é necessário ser visto pra se fazer entender.


                       

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

O cheiro de Irvine ou o porquê de eu achar que essa é a cidade mais encantadora que já vi.

Cerca de duas semanas em Irvine e fico pensando no que posso contar pros meus pais ou pros meus amigos sobre como é aqui. Imagino que todo mundo que já viajou passou por isso, ainda mais se a pessoa for como eu, que sente necessidade que o mundo participe da experiência.

As grandes coisas sobre a cidade são aquelas que qualquer um pode achar na wikipedia, como saber que a cidade tem apenas 40 anos e que surgiu em volta da UCI, que tem 50 anos. Outra coisa fácil de saber é que é perto das praias famosinhas, tipo Newport Beach ou Long Beach. Tem também que como a cidade foi construída em torno da vida universitária, 30% da população é de chineses (e imagino que 50% seja de latinos e indianos e o resto seja, talvez, de estadunidenses mesmo), o que parece pouco, mas é bastante perceptível quando em todos os lugares, dentro e fora da universidade, a maioria de pessoas que vejo são chineses de todas as idades  e perfis. Eu e o Dan apelidamos alguns de “chinegros”, que são os meninos chineses que usam roupas com estilo negro do subúrbio, usam mais gírias e também são mais malhados e bronzeados que a maioria dos chineses.

Mas as reais diferenças são vistas no dia a dia. É diariamente que percebo que não estou em Curitiba, quando, por exemplo, uso um banheiro público. 

Qual a diferença de um banheiro público aqui? Bom, em primeiro lugar as privadas têm assento, mas não tem tampa pro assento. Também não tem lixo pra jogar o papel higiênico, que tem que ser jogado no vaso sanitário mesmo. Só tem um lixo super pequeno pra colocar os absorventes. Na maioria dos banheiros que usei, e isso é banheiro pra caramba – quem andou comigo na rua sabe que paro pra fazer xixi a cada quarenta minutos, já que bebo água o tempo todo –  tem um “quadro” que vende absorventes externos e internos por 25 centavos: basta pôr a moeda e puxar a alavanca e seu absorvente cai. Super prático, já que quando desce a menstruação fora de época é um corre-corre desgraçado pra achar alguma farmácia aberta... 
Ah, aqui os banheiros são mais acessíveis também. Não só porque você não precisa entrar nos prédios públicos pra usar o banheiro, mas accessíveis pra pessoas que usam cadeira de rodas também. Nunca vi tantos banheiros adaptados assim no Brasil. Mesmo nos shoppings em Curitiba se me pedissem informação eu demoraria pra dizer em qual andar tem banheiro adaptado. Outra coisa legal do banheiro é que em boa parte deles a descarga é automática. Você levanta do assento e voilà! o papel vai embora. Imagine minha aflição sentada na privada pensando: “nossa, essa descarga é super forte, imagina a desgraça se ela falha e aciona enquanto tô sentada?”. É, sou bicho do Paraná, ainda não me acostumei com todas essas ‘modernidades’.

Passear à noite é bem gostoso, já que não tem sol, mas ainda tá quente porque fez 822 graus o dia todo. Impressionante é ver as pistas (enormes) vazias e nenhum pedestre atravessando a rua fora da faixa ou com o sinal aberto pros carros. Isso gera um pouco de impaciência em mim, mas prefiro me adaptar às regras da cidade (rola um boato que atravessar fora da faixa ou com o sinal aberto dá multa) do que quebrar uma regra pelos simples prazer de quebrá-la. Os motoristas também respeitam muito as faixas de pedestres e as ciclofaixas. Nas ruas e avenidas há um espaço considerável pra andar de bike e pelo menos até agora, em todos os lugares que vi que tinham calçadas, tinham ciclofaixas.

Não sei se todas as cidades da Califórnia são assim, até agora só conheço San Diego – que é um deleite pros olhos –, NewPort e Irvine, mas ainda assim acho válido contar como o trânsito nestes lugares é amável e funcional. Ah! Quando um carro dos bombeiros ou da polícia passa, não importa quão largas as ruas sejam, ou quão vazias estejam, todos os motoristas vão para o acostamento e só saem de lá depois que viatura saiu daquela quadra!! Achei tão fantástico isso! Morando na cidade com o trânsito menos colaborativo do Brasil e vendo motorista de ambulância com a sirene ligada tendo que buzinar pra conseguir passar, ver colaboração no trânsito é muito amor!

Outra curiosidade é que tem mais loja de comida do que loja de roupa. Lá em Newport a gente foi no Fashion Island, o shopping mais legal que eu já vi na vida. Bem aqueles de filme mesmo, com direito a loja de Rolex, Tesla e Louis Vuitton. Tinha uma loja da Forever 21 também, numa promoção estilo Lojão da Economia New, com shorts por 4 dólares em zilhões de modelos diferentes. Pensa numa pessoa feliz! Peguei 8 shorts e fui pro provador. Agora pensa numa decepção... A gente que nasceu com “bumbum de brasileira” (sério, as pessoas pedem pra ficar com bumbum de brasileira nas clínicas de estética ou de plástica) não tem nem como comprar shorts em seções comuns. Não cabe! Ficou perfeito na cintura e nas coxas, mas quando eu olhei pra trás... Que fiasco! A bunda toda achatada, uma proporção imensa... Um erro! Ahahhhah não levei shorts nenhum e ainda fiquei com “ai meu deos que merda, engordei”, aí que me explicaram que pra quem tem corpão (tenho corpão mesmo, lide com isso) existe uma seção especial, então quem for comprar roupa nos EUA fica atenta pra provar tudo e na dúvida, procure roupas pra “Curvy Girls”.


Enquanto eu escrevo esse texto minha roupa está lavando, naquelas lavanderias iguais às de filme, onde você paga 1 dólar pra lavar e outro dólar pra secar (aqui no housing tem várias dessas, e não é luxo não, ter uma lavanderia em casa é sinal de que Deus sorriu pra ti e tu ficou rico) e eu estou sentada numa mesinha muito agradável, embaixo de um pergolado lindo, olhando as montanhas. Talvez a foto fique boa, talvez não. E isso também é frustrante. Metade do que me enche os olhos não consigo captar em fotografias: as figueiras imensas do Aldrich Park não ficam majestosas nas minhas fotos com o celular, os jardins de rosas da universidade – cara, existem vários jardins com rosas na universidade – não ficam bem retratados nem em fotos com a câmera... Mas o que dói mais é não conseguir uma foto boa das montanhas, são lindas demais! Aqui de onde estou vejo o estacionamento, o começo do housing vizinho, as árvores e lá no fundo uma cadeia de montanhas tão lindas!!

O dia a dia em uma cidade que não é a tua de origem é bem curioso porque tudo o que vemos enche os olhos, enche o peito, faz pensar. Cada dia é uma nova Rosemary que acorda, cada Rosemary que acorda é uma Rosemary que se encanta com os gramados mais diferentes que já viu, com suculentas ou alecrins no lugar da grama; cada Rosemary diferente fica ainda mais diferente quando percebe que o mundo é todo igual em qualquer canto do mundo, o que torna tudo diferente e nos dá a vontade de conhecer o mundo inteiro é apenas a vontade de parar para respirar, para espiar, para cheirar, para sentir todas as sutilezas cotidianas que costumam passar desapercebidas no nosso lugar de origem. E aí eu penso: não existe lugar comum. Nem que eu queira. 

 

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

O cheiro de Irvine, ou sobre como tamanduás de roupinhas são fofos.

Chegar numa cidade nova pode ser encantador ou broxante.

Chegar em Irvine foi como chegar na casa da avó da gente, quando a gente gosta da avó. Irvine cheira bem e o ar era fresco, mesmo com o calor de uns 25 graus que estava fazendo.

Eram duas da tarde aqui, portanto, seis da tarde no Brasil. Tudo o que meu corpo queria descansar. Comer algo quente, tomar um bom banho, deitar. Porém... Eram duas da tarde aqui, o sol estava a pino, a gente estava com um carro alugado e precisava aproveitar pra comprar as coisas pra mobiliar nosso apartamento, que ficaria disponível dali dois dias. Por mais que o corpo pedisse pra descansar, eu ainda estava mentalmente bem atenta, porque por mais que eu não acreditasse nisso, o corpo dá uma bugada feroz com a mudança de fuso, de pressão do ar, de altitude... Quando sentei dentro do apartamento da moça que nos recebeu, comecei a marear, exatamente igual quando a gente vai pra alto mar e fica duas, três horas navegando. Deu tontura, enjoo, mal estar. Todo o labirinto que havia levado horas pra acostumar a ficar ‘trimilicando’ levaria dois dias inteiros pra se acostumar com estar em terra firme novamente.

Levei uns dez minutos pra conseguir usar o banheiro, lavar o rosto e trocar de roupa, porque ao contrário de Curitiba ameaçava esfriar e me obrigou a viajar de calça e bota, em Irvine o sol estava firme e o céu super azul. Minissaia porque era o que estava na mala de mão, chinelo porque era o que cabia no pé e bola pra frente. Entramos no carro e como bons brasileiros fomos comer comida chinesa servida por uma japonesa num complexo de restaurantes americanos. Yakissoba mais apimentado que provei na vida, suco mais doce que bebi na vida, mas pelo menos deu energia pra seguir pra um lugar bem curioso, chamado Ikea.

A Ikea é uma mistura de Casas Bahia com Casa China, encontramos canecas de porcelana por 49 centavos, e jogo de quarto por setecentos dólares. Uma pechincha. Li um texto hoje que diz que o melhor lugar do mundo pra ser classe média é o Brasil, e isso é verdade. Na Ikea você paga uma taxa de uns cem dólares se quiser escolher o produto do showroom, pagar e ir embora. Agora, se você for uma pessoa com uma realidade de mundo mais prática e que dá até nó em pingo d’água pra economizar dinheiro, a loja oferece a seguinte opção: Vá até o térreo, pegue peça por peça dos seus móveis (literalmente) e leve num carrinho enorme até o caixa, depois leve o mesmo carrinho até o local onde os móveis precisam ser despachados, caso necessite de entrega (que foi o nosso caso) e pague outra taxa caso precise que os móveis sejam montados, porque só no Brasil a profissão de montador de móveis é vista como “nossa, tá cobrando tudo isso? Caro demais!!”, aqui se paga – e se paga bem – até pra apertar um parafuso.

Falei que só no Brasil é fácil ser classe média? Então, eu sou estudante aqui, nem tenho classe... aahhahaha Mas se quiser mordomias e gente fazendo coisas pra você, tipo montar móveis ou carregar as chapas do seu próprio guarda-roupas, prepare-se pra desembolsar mais da metade do seu ordenado, porque tudo na mão é só na terra brasilis mesmo. Somos mal acostumados e nem sabemos...

Eu já não me aguentava em pé, o marido que é branco estava com olheiras marrons bem profundas, mas ainda não era hora de dormir, por mais que fosse dez da noite aqui e cerca de duas da manhã no Brasil, e, portanto, horário do nosso relógio biológico.

Aproveitamos pra passar no Walmart pra comprar alguma coisa pra comer pro dia seguinte, e coisas urgentes que não tínhamos, tipo pasta de dente e sabonete. Inclusive, esse tal shampoo da moda, o Aussie, é pouco mais de 6 dólares aqui, exatamente como o Pantene. Ah, não só a embalagem do Shampoo, o kit com o condicionador junto é 6 doláres.

Chegando no apartamento da nossa anfitriã, que mora num prédio de 3 andares sem elevador, porque elevador não precisa, né gente, vamo malhar pernas, pensei numa coisa engraçada: foi o primeiro lugar do mundo em que vesti saia e chinelo de dedo e me senti super bem vestida. Era como se eu tivesse super arrumada, quando só estava muito confortável.

No dia seguinte acordamos realmente cedo e fomos fazer meio zilhão de coisas até entregar o carro, inclusive tomar café da manhã na rua. Café da manhã que fiz questão que fosse bem americano: Torradas, ovos mexidos e o bacon mais crocante que comi na vida, o café em si, porém, muito fraco, não gostei não.

Depois de entregarmos o carro, perto das duas da tarde, fomos pro escritório do “condomínio” resolver papeladas pra pegarmos a chave do ap no dia seguinte. Mesmo com a correria conseguimos olhar um pouco da universidade de Irvine e ela é linda. Tem árvore por tudo, tem gente ‘pelada’ por tudo (se você acha que tua roupa aí é curta, meu irmão...) e tem um dos comportamentos masculinos mais amáveis que vi até agora: nenhuma cantada, nenhuma olhada invasiva, nenhum constrangimento. Ainda não sei se em todo os lugares é assim, ou se é assim o tempo todo, mas provavelmente nunca me senti tão à vontade em usar roupa curta, sem me sentir um pedaço de picanha.

Lá pelas quatro da tarde recebemos uma ligação bem bacana: a nossa mala perdida estava nos esperando à nossa porta. Se eu fiquei preocupada achando que nunca mais veríamos a bagagem? Em nenhum momento. Sempre achei que seria entregue em um ou dois dias, porque a bagagem estava com código de rastreio e em momento algum ficamos sem saber informações dela (acho que a mala só queria passear, ela foi pra Houstoun, pra Austin, pra Los Angeles e daí pra Irvine), então quando pegamos a mala não foi tão eufórico assim, mas foi bom, bem bom.

Depois da mala em mãos restava apenas comer, tomar banho e dormir, e estávamos tão exaustos que às oito da noite já estávamos na cama. As seis e meia da manhã do dia 4 já estávamos de pé, recompostos e felizes. Esperamos o banco abrir pra poder registrar a assinatura (o horário comercial aqui é das 9 às 17:00, quer algo mais genial do que não precisar madrugar e ainda sair do trabalho com tempo de aproveitar o fim do dia?) e aí ficamos esperando dar o horário pra pegarmos a chave do apartamento.

Por que tanta preocupação com o apartamento? O que estamos fazendo aqui? A comida é diferente? A coca tem outro gosto? É barato comer? É barato viver? É o sonho americano morar na Califórnia? Lá na frente eu conto...

Por enquanto, gostaria de dizer que essa coisa de “a cultura é diferente”, “no Brasil não tem cultura”, “isso sim é que é país”, é muita balela. Não funciona assim não, tem milhares de coisas no Brasil que tem qualidade infinitamente superior. O que realmente dá pra sentir de diferença é a educação. Quando fomos ao banco eu estava de tênis, bermuda e camiseta, o maridão de regata e bermuda, ambos com sacolas nas mãos, porque aproveitamos o mercadinho (caro...) que havia perto do banco. Logo pensei que iam fazer pouco caso da gente, porque estávamos mal vestidos... Bobagem! A atendente dentro do seu tailleur curtíssimo com um decote imenso nos atendeu como reis, foi gentil e educada como todos os prestadores de serviço devem ser (não como a moça do Banco do Brasil que me disse: “fiz tudo o que eu pude, você não tem o direito de estar chateada) e isso se estende a todos os atendentes e funcionários públicos que vi até agora. Nos escritórios da faculdade te oferecem café, chá, limonada, frutas e biscoitos só por você ir lá pedir informação.

A cultura não é melhor ou pior, mas a educação é muito diferente. É gentil sem ser invasiva. Gostei bastante.

Estou feliz, experimentando cada primeira experiência exatamente igual uma criança de alguns meses experimenta o mundo.

domingo, 6 de setembro de 2015

A primeira vez, ou sobre como cheguei em Irvine.

Não que eu quisesse estar escrevendo agora, com os fones de ouvido desligados e essa vontade de dormir, mas pelo visto a vontade de contar causo é maior que tudo.

Naquele dia eu fui voar de avião pela primeira vez. Voar de avião? Andar de avião? Não sei bem como dizer, mas o fato é que eu nunca tinha entrado num avião antes. Malmente tinha ido num aeroporto.

A crise de riso foi algo quase imprescindível, como quando alguém me conta algo ruim, ou como quando eu fico com muita vergonha ou ansiedade. Ri até chorar. O avião subindo e eu rindo e rindo e as lágrimas escorrendo e eu apertando a mão do meu namorado e rindo e chorando e rindo e chorando e falando como aquilo era surreal e maravilhoso, e era mesmo. Realmente era. Ver a cidade ficando pequenininha e as nuvens ficando cada vez mais brancas é uma coisa tão surpreendente que tira o ar; tira o ar e te coloca no eixo. O voo foi rápido, ou melhor, os quarenta minutos mais rápidos da minha vida. Nem tinha acostumado com estar fora do chão e já me achava apertando o braço da poltrona porque a decida se aproximava: mais choro. Ainda assim, ver a cidade cada vez maior, mais nítida, mais perto, é muito mais bonito do que ver a cidade ficando longe. A aterrizagem foi boa e tranquila, e logo eu estava em São Paulo, naquele mundaréu de gente e de barulhos, num aeroporto imenso.

Primeira chateação foi a de esperar a companhia abrir as portas, o que seria quase duas horas depois de quando chegamos, depois disso veio o primeiro soco no estômago: voo cancelado. Como assim foi cancelado? O que houve? O que vai acontecer agora? Mais vários minutos e conseguimos ser realocados em aeronave de outra companhia. Só que invés do horário inicial previsto, o outro voo sairia duas horas ainda mais tarde: 6 horas de aeroporto. Não bastasse isso, a aeronave atrasou em quase uma hora. Ganhamos bolachinhas e snacks da companhia aérea, mas eu queria mesmo era ir logo. Deu medo quando soube que a aeronave anterior tinha sido ‘bloqueada’ por problemas na manutenção, aí já fiquei cheia de minhoca na cabeça. Minhocas que morreram absurdamente rápido com o filme e o jantar do avião. Macarrão com queijo, salada e vinho. Chique, né? Tinha bombom de sobremesa. Comi metade disso e dormi por umas 4 horas, o que foi bom, já que o voo era de 9 horas... Quando acordei e pude ver o sol nascendo entre as nuvens fiquei besta, besta mesmo. Eu estava ao lado do sol, sabe como? Aqueles raios alaranjados, aquele brilho azul e o branco cintilante... Recomendo que você tenha essa experiência um dia.

Chegando em solo estadunidense tive o primeiro choque cultural: a quantidade de negros trabalhando no aeroporto é maior do que a quantidade de negros que eu via em um dia caminhando por Curitiba. Achei ótimo ver isso. Negros exercendo cargos que não são os que comumente vemos no Brasil, como empregados de limpeza ou garçons. No aeroporto eles eram a maioria e eu amei.

A voz das pessoas foi o meu segundo choque cultural. Todas as pessoas que ouvi tinham a voz bastante grave e pareciam todos atores e atrizes de seriado. Tudo ficou meio caricato pra mim, principalmente quando apareceu o agente da alfândega que era mexicano, com a cabeça raspada, um corpo escultural e um bigode com cavanhaque: ele parecia personagem do Miami Vice. Vai ver era. Vai ver eu estava numa pegadinha, sei lá.

O agente da alfândega foi cortês e gentil, e não entendi porque todos falam que é ruim passar na alfândega, já que o procedimento é simples e completamente explicável. Inclusive, lembre-se sempre de ir com sapato fácil de tirar e com o notebook/tablet/celular em lugares também fáceis, porque eles precisam passar pelo raio-x.

Liberados da alfândega restava despachar novamente a bagagem (que pegamos pra poder passar na alfândega...) e ir pro portão de embarque, mas não sem antes escovar os dentes e lavar o rosto, que já estava com a maquiagem gasta e com aparência de cansaço extremo. Apenas uma hora de conexão e veio o terceiro tiro no pé: fuso horário. Pegaríamos o voo as onze da manhã, com previsão de chegada ao meio dia e meia. Ok, ótimo. Eu só não contava que estava em Atlanta e que isso é literalmente do outro lado do país com relação à Califórnia. Mas afinal, o que isso significava? Significava que o voo seria de quatro horas, e não de uma hora. Onze da manhã em Atlanta é sete da manhã na Califórnia e o horário marcado no cartão de embarque era previsão para a chegada em San Diego, independente do fuso. Ok, bora lá.

Pior dos três voos, não só pelo cansaço, mas pela turbulência. Quatro horas de voo tremelicando na poltrona. Enjoo, mal estar, cansaço e musiquinha do Gilberto Gil pra animar. O legal dos voos grandes é que tem uma tela em cada acento, então todos podem ver o que bem entenderem. Eu resolvi pintar meu livro de colorir para adultos e recebi elogios de várias aeromoças, sim, eu sei que é comissária de bordo, mas esse nome não tem tanto glamour quanto o outro, e isso faz toda a diferença.

Chegando em San Diego restava buscar as malas e finalmente... Pegar um carro e dirigir até Irvine. Mas, cadê a quarta mala? Só tem três? E agora? Agora era reclamar com a companhia, preencher papéis, blábláblá, tomar água no bebedouro e descobrir que a água da costa oeste é lazarentamente salgada, sair do aeroporto num calor de 100 fahrenheits e ir até a locadora de automóveis, que tem um ônibus bem bacana que vai do aeroporto pra locadora em minutos, com a motorista mais gentil que já vi, e por curiosidade, também negra.

O interessante da locadora de automóveis é sorrir e acenar quando tentarem te vender seguro até do seu dedinho do pé: importante em situações de batê-lo na quina. Conseguimos sair de lá sem contratar nada a mais do que precisávamos e isso foi o máximo. O carro era dos sonhos: Nissan Pathfinder. Todo enorme, todo automático, todo amor maior, todo meu deus isso não tem chave isso liga num botão mas não liga se o freio não estiver acionado isso me deixa confuso pelo amor de deus dirige pra mim opa não dirige não porque o l h a i s s o e s s a r o d o v i a t e m c i n c o p i s t a s.

Cinco pistas. Largas. Enormes. Boas. Lisinhas. Um sonho.

Em algumas alturas da rodovia existe o carpool, que é uma pista exclusiva pra quem dirige com duas ou mais pessoas no carro. E os motoristas respeitam! Genial isso!! Quem leva carro com mais gente tem prioridade sim, e isso é ótimo porque estimula as caronas!

Depois de 14 horas dentro de aviões, 28 horas entre aeroportos e voos e duas horas dirigindo, chegamos na bela e ensolarada Irvine, nossas primeiras horas na cidade foram incríveis e agitadas, mas isso é outra história...

Por agora só acho importante dizer: é interessantíssimo dormir em um continente e acordar em outro. Recomendo.