Cerca de duas semanas em Irvine e
fico pensando no que posso contar pros meus pais ou pros meus amigos sobre
como é aqui. Imagino que todo mundo que já viajou passou por isso, ainda mais
se a pessoa for como eu, que sente necessidade que o mundo participe da
experiência.
As grandes coisas sobre a cidade são
aquelas que qualquer um pode achar na wikipedia, como saber que a cidade tem
apenas 40 anos e que surgiu em volta da UCI, que tem 50 anos. Outra coisa fácil
de saber é que é perto das praias famosinhas, tipo Newport Beach ou Long Beach.
Tem também que como a cidade foi construída em torno da vida universitária, 30%
da população é de chineses (e imagino que 50% seja de latinos e indianos e o
resto seja, talvez, de estadunidenses mesmo), o que parece pouco, mas é bastante perceptível quando em todos os lugares, dentro e fora da universidade, a maioria
de pessoas que vejo são chineses de todas as idades e perfis. Eu e o Dan apelidamos alguns de
“chinegros”, que são os meninos chineses que usam roupas com estilo negro do
subúrbio, usam mais gírias e também são mais malhados e bronzeados que a
maioria dos chineses.
Mas as reais diferenças são
vistas no dia a dia. É diariamente que percebo que não estou em Curitiba,
quando, por exemplo, uso um banheiro público.
Qual a diferença de um banheiro
público aqui? Bom, em primeiro lugar as privadas têm assento, mas não tem tampa
pro assento. Também não tem lixo pra jogar o papel higiênico, que tem que ser
jogado no vaso sanitário mesmo. Só tem um lixo super pequeno pra colocar os
absorventes. Na maioria dos banheiros que usei, e isso é banheiro pra caramba – quem andou comigo na rua sabe
que paro pra fazer xixi a cada quarenta minutos, já que bebo água o tempo todo
– tem um “quadro” que vende absorventes
externos e internos por 25 centavos: basta pôr a moeda e puxar a alavanca e seu
absorvente cai. Super prático, já que quando desce a menstruação fora de época
é um corre-corre desgraçado pra achar alguma farmácia aberta...
Ah, aqui os
banheiros são mais acessíveis também. Não só porque você não precisa entrar nos
prédios públicos pra usar o banheiro, mas accessíveis pra pessoas que usam
cadeira de rodas também. Nunca vi tantos banheiros adaptados assim no Brasil.
Mesmo nos shoppings em Curitiba se me pedissem informação eu demoraria pra
dizer em qual andar tem banheiro adaptado. Outra coisa legal do banheiro é que
em boa parte deles a descarga é automática. Você levanta do assento e voilà! o papel vai embora. Imagine minha
aflição sentada na privada pensando: “nossa, essa descarga é super forte,
imagina a desgraça se ela falha e aciona enquanto tô sentada?”. É, sou bicho do
Paraná, ainda não me acostumei com todas essas ‘modernidades’.
Passear à noite é bem gostoso, já
que não tem sol, mas ainda tá quente porque fez 822 graus o dia todo.
Impressionante é ver as pistas (enormes) vazias e nenhum pedestre atravessando
a rua fora da faixa ou com o sinal aberto pros carros. Isso gera um pouco de
impaciência em mim, mas prefiro me adaptar às regras da cidade (rola um boato
que atravessar fora da faixa ou com o sinal aberto dá multa) do que quebrar uma
regra pelos simples prazer de quebrá-la. Os motoristas também respeitam muito as faixas de pedestres e as
ciclofaixas. Nas ruas e avenidas há um espaço considerável pra andar de bike e
pelo menos até agora, em todos os lugares que vi que tinham calçadas, tinham
ciclofaixas.
Não sei se todas as cidades da
Califórnia são assim, até agora só conheço San Diego – que é um deleite pros
olhos –, NewPort e Irvine, mas ainda assim acho válido contar como o trânsito
nestes lugares é amável e funcional. Ah! Quando um carro dos bombeiros ou da
polícia passa, não importa quão largas as ruas sejam, ou quão vazias estejam,
todos os motoristas vão para o acostamento e só saem de lá depois que viatura
saiu daquela quadra!! Achei tão fantástico isso! Morando na cidade com o
trânsito menos colaborativo do Brasil e vendo motorista de ambulância com a
sirene ligada tendo que buzinar pra conseguir passar, ver colaboração no
trânsito é muito amor!
Outra curiosidade é que tem mais
loja de comida do que loja de roupa. Lá em Newport a gente foi no Fashion
Island, o shopping mais legal que eu já vi na vida. Bem aqueles de filme mesmo,
com direito a loja de Rolex, Tesla e Louis Vuitton. Tinha uma loja da Forever 21
também, numa promoção estilo Lojão da Economia New, com shorts por 4 dólares em
zilhões de modelos diferentes. Pensa numa pessoa feliz! Peguei 8 shorts e fui
pro provador. Agora pensa numa decepção... A gente que nasceu com “bumbum de
brasileira” (sério, as pessoas pedem pra ficar com bumbum de brasileira nas
clínicas de estética ou de plástica) não tem nem como comprar shorts em seções
comuns. Não cabe! Ficou perfeito na cintura e nas coxas, mas quando eu olhei
pra trás... Que fiasco! A bunda toda achatada, uma proporção imensa... Um erro!
Ahahhhah não levei shorts nenhum e ainda fiquei com “ai meu deos que merda,
engordei”, aí que me explicaram que pra quem tem corpão (tenho corpão mesmo,
lide com isso) existe uma seção especial, então quem for comprar roupa nos EUA
fica atenta pra provar tudo e na dúvida, procure roupas pra “Curvy Girls”.
Enquanto eu escrevo esse texto
minha roupa está lavando, naquelas lavanderias iguais às de filme, onde você
paga 1 dólar pra lavar e outro dólar pra secar (aqui no housing tem várias
dessas, e não é luxo não, ter uma lavanderia em casa é sinal de que Deus
sorriu pra ti e tu ficou rico) e eu estou sentada numa mesinha muito agradável,
embaixo de um pergolado lindo, olhando as montanhas. Talvez a foto fique boa,
talvez não. E isso também é frustrante. Metade do que me enche os olhos não
consigo captar em fotografias: as figueiras imensas do Aldrich Park não ficam
majestosas nas minhas fotos com o celular, os jardins de rosas da universidade
– cara, existem vários jardins com rosas na universidade – não ficam bem
retratados nem em fotos com a câmera... Mas o que dói mais é não conseguir uma foto boa das montanhas, são lindas demais! Aqui de onde estou vejo o estacionamento, o começo do housing vizinho, as árvores e lá no fundo uma cadeia de montanhas tão lindas!!
O dia a dia em uma cidade que não é a
tua de origem é bem curioso porque tudo o que vemos enche os olhos, enche o
peito, faz pensar. Cada dia é uma nova Rosemary que acorda, cada Rosemary que
acorda é uma Rosemary que se encanta com os gramados mais diferentes que já viu,
com suculentas ou alecrins no lugar da grama; cada Rosemary diferente fica
ainda mais diferente quando percebe que o mundo é todo igual em qualquer canto
do mundo, o que torna tudo diferente e nos dá a vontade de conhecer o mundo
inteiro é apenas a vontade de parar para respirar, para espiar, para cheirar,
para sentir todas as sutilezas cotidianas que costumam passar desapercebidas no
nosso lugar de origem. E aí eu penso: não existe lugar comum. Nem que eu queira.

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