Quem poderia imaginar o que se
passava por trás daqueles óculos com aros brancos?
Aqueles óculos eram estranhos, tão amplos que lhe cobriam quase todo o rosto tão pequeno e tão
manchado de sardas...
Era morena e tinha sardas. Os
olhos eram grandes, ou imagino que eram, porque se não fossem, não lhe caberiam
óculos tão absurdamente grandes. Então lhe imaginei olhos grandes, vivos e
marrons, com formato amendoado, porque lhe cairia bem com o cabelo escuro.
Era um cabelo bem escuro, e
despretensiosamente preso num coque; meio preso, meio solto. A franja caia pela
frente da lente direita do enorme óculos branco.
Ela, parada ali no meio do mundo,
tinha sua parcela de culpa: me chamava a atenção. Não sei porque ela fazia
isso. Nunca fiz nada pra ela. O jeans azul, a camiseta preta e larga, o quase
sorriso. Ela só estava parada ali, a megera. Cínica, olhando o mundo com
aqueles olhos enormes e marrons escondidos pela lente verde daquele maldito
óculos branco. Parada ali, com a mão na alça da bolsa, esquecendo todo o mal do
mundo, me usando, a maldita.
Quis lhe estapear, correr até lá
ela e meter-lhe a mão na cara, empurrar, chutar, sei lá, qualquer coisa que que
fizesse aquela vaca se mexer e parar de mexer comigo. Três segundos ou três dias
inteiros se passaram e ela ali, intacta. Comecei a imaginar pra ela todos os
defeitos do mundo. Imaginei que ela vomitava pra emagrecer, que não transava
porque era frígida, que não comia carne, que não fumava, que não conhecia nada
de cinema nem sabia ler em inglês. Projetei na desgraçada todas as minhas
frustrações, meus desejos perdidos, minhas manias sem lei, meus resumos
inacabados.
Então a filha da puta sorri. De
tudo o que a bruxa poderia fazer, ela sorri.
Quem aquele demônio pensa que é?
Quem deixou que me encantasse desse jeito a maldita sangue-ruim?
Não resisti. Dei-lhe três tiros
no peito. Foi pro chão a peste; os óculos brancos pro lado, a bolsa pro outro.
O sangue escorrendo em volta deixou-a ainda mais bonita.
Morreu sorrindo, a ingrata.
Quem poderia imaginar o que se passaria nesse conto? Na minha tela pequena, 3.5", as letras brancas iam crescendo por baixo e sumindo por cima. Lendo, queria descobrir que diabos esse conto pensava que era para me prender assim. No fim, como se não bastasse, me fez sorrir. Me fez sorrir, o descarado. Eu? Apenas não aguentei e fechei página, afinal não sou obrigada.
ResponderExcluirMereceu, a vadia.
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